No primeiro discurso, o compromisso com a reforma política

Releita com 51,64% dos votos válidos (54,5 milhões), contra 48,36% de Aécio Neves (51 milhões), Dilma Rousseff (PT) fez seu primeiro discurso depois da apuração chamando à unidade e assumindo desde já o compromisso com as reformas que o país vem pedindo desde os protestos de junho de 2013 e enfatizadas durante a campanha eleitoral. ” A primeira e mais importante deve ser a reforma política”, disse ela, propondo também o caminho do plebiscito, que dará ” a força e a legitimidade exigida neste momento de transformação para levarmos à frente a reforma política.”

Apesar das dificuldades antevistas com a eleição de um Congresso mais conservador do que o do atual mandato, e da estreita diferença de votos em relação ao adversário, Dilma não vê nesses resultados a divisão do país, e se diz aberta ao diálogo. “Não acredito, sinceramente, do fundo do meu coração, que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias, emoções, às vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca de um futuro melhor.”

Dilma falou em construir pontes, em lugar de ampliar divergências, mas também lembrou que a palavra mais repetida nestas eleições foi “mudança” e que o tema mais amplamente invocado foi reforma.

Com esse discurso, a Presidenta tornou a reforma política um objetivo irremovível de seu próximo mandato. Não poderá terminá-lo sem concretizá-la, sob pena de minar a confiança de quem foi às ruas por sua reeleição, e mesmo os anseios de parcelas de eleitores de seu adversário por acreditarem que seria este o caminho para mudanças concretas. Em um compromisso claro, Dilma reconheceu e afirmou que foi eleita para isso. “Sei que estou sendo reconduzida à presidência para fazer as grandes mudanças que a sociedade brasileira exige`, declarou.

A reforma política não foi a única cobrada durante as eleições. Outro tema sensível ao seu eleitorado é a democratização das comunicações, não mencionada diretamente por ela, mas lembrada pelo público e pelas redes sociais. Enquanto Dilma Rousseff fazia seu discurso de vitória, era possível ouvir a frase “fora a Rede Globo, o povo não é bobo” repetida pela platéia e transmitida ao vivo até pela Rede Globo.

“Sei da força e das limitações que tem qualquer presidente. Sei também do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares, e eu o farei”, assegurou a presidenta do Brasil

Leia o discurso de vitória Dilma Rousseff

“Queria cumprimentar a todos aqui, agradecer a cada um de vocês e a cada uma de vocês. Começo saudando o presidente Lula. Dirijo minha saudação ao vice-presidente Michel Temer. Queria cumprimentar também a vice-primeira-dama, nossa querida Marcela.

Cumprimentar os presidentes dos partidos da minha coligação. Rui Falcão, presidente do PT, Carlos Lupi, presidente do PDT, José Renato Rabelo, presidente do PCdoB, Ciro Nogueira, presidente do PP, Vitor Paulo, do Partido Republicano Brasileiro, Antônio Carlos Rodrigues, presidente do Partido da República, Gilberto Kassab, presidente do PSD, Eurípedes Júnior, presidente do Pros.

Senhoras e senhores, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas. Senhoras e senhores, meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma disputa eleitoral que mobilizou intensamente todas as forças do nosso país, da nação. Como vencedora dessas eleições históricas, tenho simultaneamente palavras de agradecimento e de conclamação. Agradeço ao meu companheiro de chapa, parceiro de todas as horas, meu vice, Michel Temer. Agradeço aos partidos políticos e sua militância, que sustentaram a nossa aliança e foram decisivos para nossa vitória.

Agradeço a cada um e a cada uma dos integrantes dessa militância combativa, que foi a alma, que foi a força dessa vitória. E agradeço, sem exceção, a todos os brasileiros e brasileiras. Eu faço um agradecimento do fundo do meu coração a um militante, ao militante número um das causas do povo e do Brasil: o presidente Lula.

Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e a todos os brasileiros, para nos unirmos em favor do futuro de nossa pátria, de nosso país e de nosso povo. Não acredito, sinceramente, do fundo do meu coração, que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias, emoções, às vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca de um futuro melhor.

Em lugar de ampliar divergências, de criar um fosso, tenho forte esperança de que a energia mobilizadora tenha preparado um bom terreno para a construção de pontes. O calor liberado no fragor da disputa pode e deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no Brasil.

Com a força deste sentimento mobilizador é possível encontrar pontos em comum, e construir com eles uma primeira base de entendimento para fazermos o nosso país avançar. Algumas vezes na história resultados apertados produziram mudanças mais fortes e mais rápidas do que vitórias muito longas. É essa a minha esperança. Ou melhor, a minha certeza do que vai ocorrer a partir de agora no Brasil.

O debate das ideias, o choque de posições pode construir espaços de consenso capazes de mover a nossa sociedade nas trilhas de mudanças que tanto necessitamos. Minhas palavras são de chamamento à base e à união. Nas democracias maduras, união não significa necessariamente unidade de ideias, nem ação monolítica conjunta. Pressupõe, em primeiro lugar, abertura e disposição ao diálogo. Esta presidenta aqui está disposta ao diálogo, e é este o primeiro compromisso do meu segundo mandato: diálogo.

Minhas amigas e meus amigos: toda eleição tem que ser vista como uma forma pacífica e segura de mudança de um país. Toda eleição é uma forma de mudança, principalmente para nós, que vivemos numa das maiores democracias do mundo.

Quando uma reeleição se consuma, ela tem de ser entendida como um voto de esperança dado pelo povo na melhoria do governo. Voto de esperança é o que é uma reeleição. Muito especialmente na melhoria dos atos dos que até então vinham governando. Eu sei que é isso que o povo diz quando reelege um governante. Foi o que eu escutei nas urnas. Por isso quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora.

Quero ser uma pessoa ainda melhor do que tenho me esforçado por ser. Esse sentimento de superação deve não apenas impulsionar o governo e a minha pessoa, mas toda a nação. O caminho é muito claro. Algumas palavras e temas dominaram esta campanha. A palavra mais repetida, mais dita, mais falada, mais dominante foi mudança. O tema mais amplamente invocado foi reforma.

Sei que estou sendo reconduzida à presidência para fazer as grandes mudanças que a sociedade brasileira exige. Naquilo que meu esforço, meu papel e meu poder alcançam, podem ter certeza: estou pronta a responder essa convocação. Direi sim a este sentimento, que veio do mais profundo da alma brasileira. Sei da força e das limitações que tem qualquer presidente. Sei também do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares, e eu o farei.

A minha disposição mais profunda é liderar da forma mais pacífica e democrática esse momento transformador. Estou disposta a abrir um grande espaço de diálogo com todos os setores da sociedade para encontrarmos as soluções mais rápidas para os nossos problemas. Minhas amigas e meus amigos aqui presentes, e todos os que estão nos escutando, e todo o povo brasileiro. Entre as reformas, a primeira e mais importante deve ser a reforma política.

Meu compromisso, como ficou claro durante toda a campanha, é deflagrar essa reforma, que é responsabilidade constitucional do Congresso, e que deve mobilizar a sociedade por um plebiscito, por meio de uma consulta popular. Como instrumento desta consulta, nós vamos encontrar a força e a legitimidade exigida neste momento de transformação para levarmos à frente a reforma política. Quero discutir esse tema profundamente com o novo Congresso Nacional e com toda a população brasileira, e tenho convicção de que haverá interesse dos setores do Congresso, dos setores da sociedade, de todas as forças ativas na nossa sociedade para abrir uma discussão e encaminhar as medidas concretas. Quero discutir igualmente com todos os movimentos sociais e as forças da sociedade civil.

Quando cito a reforma política, não significa que eu não saiba a importância das demais reformas que temos também a obrigação de promover. Terei o compromisso rigoroso também com o combate à corrupção, fortalecendo as instituições de controle e propondo mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade, que é a protetora da corrupção. Ao longo da campanha anunciei medidas que vão ser muito importantes para que a sociedade brasileira e o país como um todo enfrentem a corrupção e acabem com a impunidade. Promoverei também com urgência ações localizadas, em especial na economia, para retomarmos nosso nível de crescimento, garantirmos os níveis altos de emprego e assegurando também a valorização dos salários. Vamos dar mais impulso à atividade econômica em todos os setores, em especial no setor industrial. Quero a participação, a parceria de todos os setores produtivos e financeiros nessa tarefa, que é responsabilidade de cada um de nós, brasileiros e brasileiras. Seguirei combatendo com rigor a inflação e avançando no terreno da atividade fiscal. Vou estimular o mais rápido possível o diálogo e a parceria com todas as forças produtivas do nosso país. Antes mesmo do início do meu próximo governo eu prosseguirei nessa tarefa

É hora de cada um e de todos nós acreditarmos no Brasil. Se ampliarmos nosso sentimento de fé nessa nação incrível, a quem temos o privilégio de pertencer e a responsabilidade de fazê-la cada vez mais próspera e justa. O Brasil, esse nosso querido país, saiu maior dessa disputa, e eu sei da responsabilidade que pesa sobre os meus ombros. Vamos continuar construindo um Brasil melhor, mais inclusivo, mais moderno, mais produtivo. Um país da solidariedade e das oportunidades. Um Brasil que valoriza o trabalho e a energia empreendedora. Um Brasil que cuida das pessoas, com um olhar especial para as mulheres, os negros e os jovens. Um Brasil cada vez mais voltado para a educação, para a cultura, para a ciência e a inovação. Vamos nos dar as mãos e avançar nessa caminhada, que vai nos ajudar a construir o presente e o futuro. O carinho, o afeto, o amor e o apoio que recebi nessa campanha me dão energia para seguir em frente com muito mais dedicação. Hoje estou muito mais forte, mais serena e mais madura para a tarefa que vocês me delegaram. Brasil, mais uma vez, esta filha tua não fugirá da luta.

Viva o Brasil! Viva o povo brasileiro!”

Foto: Pozzebom, Agência Brasil

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