Rio Tietê: um insistente subversivo

Segundo recente relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, “O Retrato da Qualidade da Água e a evolução parcial dos indicadores de impacto do Projeto Tietê”, iniciado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, em 1992”, o trecho considerado “morto” do rio Tietê foi reduzido em 70,7%, em quatro anos. Agora está concentrado entre os municípios de Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, totalizando 71 quilômetros, nos quais, os índices ainda variam de ruim a péssimo. No ano de 1993, a extensão comprometida era de 530 km.

Segundo Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da ONG, a mudança ocorreu nos últimos quatro anos e foi monitorada por grupo de voluntários em 82 pontos (sendo 11 trechos novos), entre setembro de 2013 e setembro de 2014. Entre os pontos mais críticos (avaliados como péssimos), estão nos rios Caputera (Arujá), Cotia (Cotia) e Tietê, na altura da USP Leste. “Os pontos de qualidade boa ficam próximos a área protegidas”, destacou.

Os trechos que obtiveram categoria “boa” foram: do rio Tietê (Biritiba Mirim), Ribeirão Tanquinho (Botucatu), Ribeirão e córrego Cabreúva (no município de mesmo nome), córrego São José (Itu), rio Piray (Salto), rio Tietê (Salesópolis), rios Capivari e Embu-Guaçu (São Paulo) e Córrego Água Preta, no bairro da Pompeia, na capital.

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB), divulgou em maio deste ano, que a qualidade das águas ainda são precárias em 11 dos 23 pontos de monitoramento em toda a extensão do rio, entre Suzano e Laranjal.
Para entender a dinâmica do Tietê, é preciso se ter em mente que esse curso d´água sofre a pressão antrópica há décadas, de cerca de 70 municípios. As suas águas recebem carga de afluentes de diferentes bacias hidrográficas: Alto Tietê (localização da Região Metropolitana de São Paulo); Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê. No trecho metropolitano, é que as condições mais precárias permanecem historicamente, desde a década de 20, por causa do despejo de esgotos domésticos e industriais. Uma questão de saneamento ainda a ser superada no estado mais rico do país.

De acordo com a Sabesp, o Projeto Tietê deverá concluir a terceira fase, até 2015. Deverão ser construídos até o término deste período, 580 quilômetros de coletores e receptores, além de 1,2 mil quilômetros de redes coletoras e 200 mil ligações domiciliares. A expectativa, de acordo com a empresa é que haja um total de 87% de esgoto coletado e 84% destes sejam tratados, numa dimensão populacional de 20,1 milhões de habitantes. A universalização é prevista para o ano de 2018.

Ao mesmo tempo, parte deste rio com a união com o Paraná forma o segundo corredor mais extenso de hidrovias no país, com 1,7 mil quilômetros navegáveis (sendo 573 quilômetros no Tietê, a partir de Conchas), que ligam Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. No trecho paulista, há seis barragens, todas com eclusas, possibilitando a navegação (Três Irmãos, Nova Avanhandava, Promissão, Ibitinga, Bariri, e Barra Bonita). A ligação com o Rio Paraná acontece por meio do canal Pereira Barreto, e com o aproveitamento da barragem de Ilha Solteira.

No ano de 2013, foram transportados cerca de 6 milhões de toneladas por toda a extensão da via. O quadro, neste ano, no entanto, não é tão animador por causa da forte estiagem. A situação também reflete no potencial hidrelétrico. O nível do reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Irmãos chegou a ficar com o volume mais baixo no Brasil. As condições em Ilha Solteira também não são das melhores. O Tietê subversivo, neste caso, está com dificuldade de permanecer tanto tempo resiliente.

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*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

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