A viralização de protestos contra o bombardeio de Gaza suplantou a capacidade de Israel de controlar a opinião pública, por mais que o poder econômico oriente os meios de comunicação privados, e as relações de governo submetam os meios públicos. Isso inclusive levou o governo a reforçar seus exércitos de estudantes recrutados, e pagos, para fazer a contra-informação nas redes.
A receita tradicional, de manter a mídia mansa, e os governos dóceis, a maioria negócios militares com Israel, tem sido empregada como sempre. A preocupação da grande imprensa em não contrariar Israel é notória. Não foram casos isolados os de de jornalistas veteranos retirados de seus postos em Gaza, após terem testemunhado e divulgado atrocidades cometidas por Israel. Os casos são de Ayman Mohyeldin, da NBC e de Diana Magnay, da CNN. Mas todo mundo sabe porque foram demitidos.
Do lado de fora de Israel, os protestos também se voltaram contra veículos tradicionais no meio público, como a BBC, acusada acusada de tender para o lado de Israel na versão dos fatos. Em contraste com a informação direta e explícita das redes sociais, a linguagem da velha mídia é moderada. A grande imprensa fala em guerra ou conflito, equiparando o poderio militar de Israel à capacidade de resistência dos palestinos e reações do Hamas.
As entrevistas são no mínimo arrogantes. As perguntas, mesmo quando dirigidas a fontes com versões diferentes, partem do pressuposto de que o Hamas é responsável pelos ataques, como se vê na entrevista da Globo News, com o professor de Direito Internacional da FGV, Salim Nasser e da CNN, com a ex-negociadora de paz pela OLP, Diana Buttu. O jornalismo diário da Rede Globo se refere ao exército Israelense como “forças de defesa” e à resistência palestina como “os radicais do Hamas”
A diplomacia também se contém, inclusive a brasileira, que apesar de condenar os ataques, chama de conflito o que as redes sociais mostram como massacre. No entanto, a palavra vai se firmando no vocabulário, e já parece atunuada diante da realidade do genocídio.
Todas as distorções, porém, encontram meios de chegar ao público, denunciadas nas redes sociais. Sentimentos de revolta, solidariedade, tornaram-se enxurrada. As postagens exigem que os bombardeiros acabem, expõem manipulações da mídia, pressionam Israel a sair de Gaza, e instam governos a que façam alguma coisa.
São as redes e as mídias ativistas que mobilizam as ruas, tomadas de manifestantes pró-Palestina. O clamor já se converteu na maior campanha mundial contra o terrorismo de estado desde janeiro de 2003, quando os movimentos sociais – ainda sem a ferramenta das redes sociais – tomaram as ruas para pedir o fim da guerra dos EUA contra o Iraque.
Israel está, claramente, perdendo a guerra da manipulação contra a informação bruta. A cada míssil contra Gaza, a cada vilarejo invadido pelas forças terrestres, aumenta o rancor mundial pelo que o Estado sinonista está fazendo aos habitantes históricos da Palestina.
Mesmo a imprensa internacional é obrigada a admitir o massacre incompreensível, nas palavras do The Nation, ao ter de noticiar que oito pessoas de uma mesma família foram mortas dentro de casa por soldados de Israel.
O jornal lembra que os americanos, em ataques passados, simplesmente ignoraram a realidade das guerras promovidas ou apoiadas pelo país, e nem enviaram jornalistas para as áreas mais massacradas. Isso já não é possível, e o jornal atribui a mudança aos telefones celulares e os computadores hoje onipresentes, mesmo em campos de refugiados pobres de Gaza. “E quando a eletricidade é restabelecida por uma hora ou duas, a primeira coisa que as pessoas fazem é carregar seus aparelhos para enviar suas fotografias, vídeos, histórias e desespero para o mundo. ” A informação agora não pode mais ser evitada. “Isso transformou o modo como entendemos o que é uma ocupação, o que faz um cerco a uma cidade, e como são as bombas de fósforo branco quando atingem um. a escola”, admite o jornal.