Gabriel García Márquez: um contista inesquecível

Como não se sentir parte de um relato, como estes trechos do livro:

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo…”

“…José Arcadio Buendía, sem entender, estendeu a mão para o bloco, mas o gigante afastou-a. “Para pegar, mais cinco reais”, disse. José Arcadio Buendía pagou, e então pôs a mão sobre o gelo, e a manteve posta por vários minutos, enquanto o coração crescia de medo e de júbilo ao contato do mistério. Sem saber o que dizer, pagou outros dez reais para que os seus filhos vivessem a prodigiosa experiência. O pequeno José Arcadio negou-se a tocá-lo…”

Nos anos 40, Márquez deu início à sua carreira literária e jornalística. Ele se entregava à construção de personagens intensos, que de certa forma, segundo memorialistas, algo que estava interligado desde suas experiências de infância, quando viveu na casa de seus avós maternos, na Colômbia. Seu avô era o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía, um veterano de guerras locais.

Ao mesmo tempo foi construindo nas décadas seguintes seu perfil político. Um apoiador de Fidel Castro e do regime cubano, essa foi uma de suas convicções políticas que manteve, além de se posicionar contra regimes ditatoriais, como do então ditador chileno Augusto Pinochet.

Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982, pelo conjunto de sua obra. As obras literárias foram se sucedendo pelas décadas, como “O amor nos tempos do cólera” (1985), que é na verdade a história de amor entre seu pai Gabriel e Luiza, com os personagens fictícios Florentino e Firmina, “Crônica de uma morte anunciada” (1981) e Relato de um Náufrago, baseado na história real de um jovem que ficou por 10 dias à deriva no mar colombiano. A sua autobiografia escreveu em 2002 – “Viver para Contar”.

Márquez também pode ser considerado um homem do mundo, viajante, que esteve em diferentes continentes, como correspondente internacional. E uma de suas frases ecoa de forma especial a quem segue como eu, a carreira jornalística: “…É a prática que vai nos tornando melhores jornalistas. E a certeza de que somos apenas aprendizes, sempre e socraticamente.” Agora, esse homem simples e latino-americano tem suas cinzas num tempo-espaço sem limites e suas mensagens ecoam por meio de uma retrospectiva salutar de sua obra.

*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk

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