Fórum Social Mundial será bienal e vai à África em 2007

O Fórum Social Mundial (FSM) nunca mais será o mesmo depois de Mumbai, Índia – onde ocorreu, em janeiro, sua 4a edição. A reunião do Conselho Internacional do FSM – realizada em uma ilha do lago Trasimeno, na região da Úmbria, Itália – se deu sob os efeitos do “espírito de Mumbai”: por um lado, a necessidade de participação popular – marcante na Índia –, e, por outro, o discurso inaugural da escritora Arundhati Roi que, expressando um sentimento generalizado entre os milhares de participantes do Fórum, pedia ações concretas na busca de avanços nas lutas dos movimentos alterglobalização.

As mudanças dos eventos mundiais do FSM, propostas pelo Conselho Internacional, começam pelo formato do próximo Fórum, que deverá se desfazer das grandes conferências e painéis para priorizar a apresentação e o cruzamento de propostas por parte dos movimentos. O objetivo é possibilitar que se chegue a uma plataforma de lutas que atenda às necessidades pregadas por Roi. Para facilitar a implementação das propostas e a organização dos movimentos afins, os Fóruns se realizarão a cada dois anos, intercalados por eventos continentais e temáticos.

O próximo encontro mundial do FSM em 2005 se realizará, como previamente acordado, em Porto Alegre. Em 2007, deve ter sua primeira edição africana – cuja sede está sendo discutida pelos movimentos locais. Entre os candidatos, até aqui, estão África do Sul, Senegal e Marrocos. Para 2009, aventou-se a possibilidade de realizar o evento nos Estados Unidos ou no México. A idéia é que o Fórum possa começar a se dar também em países do hemisfério norte, embora preferencialmente continue a se realizar em países do sul do mundo.

Existe um consenso de que a dimensão dos Fóruns tem se chocado com a possibilidade de que os eventos se tornem um espaço não apenas de intercâmbio, mas também de gestação de alternativas e de iniciativas concretas. Os eixos centrais do FSM 2005 provavelmente serão acompanhados por atividades de massa (como foram, até agora, as grandes conferências proferidas por “estrelas” do movimento altermundista), para corresponder à expectativa da grande quantidade de delegados que, supõe-se, continuarão a comparecer. No entanto, os eixos temáticos ocuparão o cenário central do evento, incluindo espaços de debate sobre as estratégias dos distintos movimentos e do movimento no seu conjunto.

A arquitetura do FSM também deve ser modificada. O Conselho Internacional ganhou uma dimensão tão grande que somente sua formalização poderá permitir que assuma efetivamente seu papel de espaço de decisão sobre as grandes linhas dos Fóruns. Ao mesmo tempo, o secretariado, composto por organizações brasileiras, deve ganhar outra forma e composição, para se adaptar às novas necessidades do FSM depois de Mumbai.

Entre as próximas atividades do Processo Fórum Social Mundial estão o Fórum Mundial de Educação, a realizar-se em Porto Alegre, simultaneamente com o Fórum Social das Américas – este em Quito -, ambos previstos para o final de julho. Em setembro, deve acontecer um seminário sobre estratégias do movimento altermundista na Itália.

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História”.

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