Roda de Conversa aborda desafios que chegam junto com a Lei de Cotas

A edição do Roda de Conversa que abordou o tema “Cotas nas Universidades”, na segunda-feira (10.09), avançou na discussão em torno da Lei 12.711/2012, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no último dia 29 de agosto. O papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (que está vinculado ao segmento empresarial, apoiado por recursos públicos), do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – que, respectivamente, patrocinam empresas e fornecem indicadores sociais – foi ressaltado pelos participantes, ao lado da necessidade de uma política de apoio e acompanhamento aos novos estudantes cotistas.

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Aberto pelo secretário Executivo da SEPPIR, Mário Lisboa Theodoro, o Roda de Conversa contou com a presença do reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo; da jornalista Miriam Leitão; da escritora Ana Maria Gonçalves, autora do livro Um defeito de cor; e de Zélia Amador de Deus, uma das fundadoras do movimento negro e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA). A ministra da SEPPIR, Luiza Bairros, ainda em férias, também participou do evento.

Passado o desafio da aprovação das cotas nas universidades, que levou longos 13 anos, a preocupação dos participantes do debate apontou na direção dos mecanismos de acompanhamento e manutenção dos estudantes cotistas nas instituições. “É preciso muito trabalho de apoio aos estudantes, especialmente os mais pobres, para que possam ter acesso a todo o material do mundo da alta tecnologia em que o conhecimento está envolvido. Ações sofisticadas que possam medir o que vai ocorrer de agora em diante com os negros no mercado de trabalho”, afirmou a jornalista Miriam Leitão.

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Ela recorreu a um dito popular comum sobre racismo – “o negro é o primeiro a ser demitido e o último a ser promovido” – para ressaltar o papel do BNDES no processo de aferição de resultados das políticas de ações afirmativas, já que a instituição passa a ter papel importante no período em que a Lei de Cotas estiver vigente, previsto inicialmente para dez anos. “As diretorias das grandes corporações, muitas delas apoiadas com recursos públicos via BNDES, são formadas exclusivamente por homens brancos”, disse a jornalista. “O BNDES precisa perguntar mais a essas empresas sobre a composição de seu quadro funcional e sobre suas políticas ambientais, por exemplo”, sugeriu.

A professora Zélia Amador de Deus (UFPA) também reforçou a questão da ausência de homens e mulheres negros não só nas empresas, como na própria universidade. “A instituição da Lei de Cotas não é importante apenas para a população negra, é importante para toda a sociedade. Elas vão permitir levar para dentro do espaço acadêmico, eurocêntrico por natureza, o corpo negro. Aquelas pessoas que estavam fora e que levam consigo uma bagagem forte, o que vai permitir a criação de uma nova epistemologia, de uma nova perspectiva de conhecimento. Não se pode pensar numa nação desenvolvida se ela nega a mais de metade de sua população o acesso aos bens que pode oferecer”, declarou.

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O reitor da Universidade de Brasília (UnB), professor José Geraldo, contou a experiência de sua instituição, onde as cotas para negros, pardos e indígenas já são uma realidade desde 2004. Ele disse que será feita uma avaliação do uso das cotas em 2014, com perspectivas de continuidade, e lembrou que, apesar de terem gerado grande comoção na sociedade e sobretudo na mídia, a discussão sobre cotas não incomodava tanto em outros tempos. “Já tivemos cotas para filhos de fazendeiros, para filhos de homens de bem – sendo que esse conceito ‘de bem’, que esteve em nossas primeiras constituições, referia-se a uma origem patrimonialista. Muitas leis produziram exclusões muito marcantes”, destacou.

O reitor ainda enfatizou a necessidade de acompanhar o desempenho, incentivar o engajamento e a permanência dos estudantes cotistas nas instituições de nível superior. “É preciso agora a instauração de políticas complementares que permitam a construção de indicadores que possam qualificar esses dados. É preciso financiar políticas de moradia, acesso a materiais educacionais, de permanência no curso mesmo”, resumiu.

Fonte: Seppir

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