América Latina unida no apoio a Chavez

O auditório lotado e a mesa composta para o ato mostravam uma unidade da esquerda brasileira pouco vista nos últimos tempos. O objetivo era apoiar a reeleição do presidente Hugo Chavez e sua revolução bolivariana na Venezuela, mostrar a solidariedade dos brasileiros contra uma campanha de difamação que vem sendo feito pela grande imprensa, naquele país e no mundo. A idéia veio do 18º Encontro do Foro de São Paulo, frente dos partidos de esquerda da América Latina fundada em 1990, realizado entre 4 e 6 de julho último em Caracas e que decidiu realizar uma campanha continental de solidariedade à Venezuela e ao governo de Hugo Chavez.

Também o 2º Congresso Nacional Camponês (que passou a ser denominado Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas), ocorrido em agosto em Brasília (DF), reunindo 33 movimentos e entidades de todo o Brasil, “deu apoio unânime ao processo venezuelano”, segundo João Pedro Stédile (MST e Via Campesina). Ele contou ainda do posicionamento de 4 mil militantes do sul do país, em reunião recente no Paraná, pela vitória de Chavez. Outro apoio continental foi no 3º Encontro da Marcha Mundial de Mulheres das Américas, concluído na véspera deste ato na Guatemala, que também declarou esta posição consensualmente , segundo Nalu Faria.

“A tua vitória será a nossa vitória”

A frase do ex-presidente Lula, em vídeo enviado ao encontro do Foro São Paulo, tornou-se a base da campanha continental. “A América Latina é muito importante para o futuro e o destino da esquerda do mundo”, falou Valter Pomar, da direção nacional do PT e do Foro São Paulo. Para o dirigente partidário, a Venezuela é fundamental para que aprofundemos a democracia real e o exercício do poder popular nesta parte do sul do planeta. Para Pomar, e para várias lideranças presentes ao ato, o processo de transformação política que vem acontecendo na América Latina está sob ameaça das forças retrógradas neoliberais. Para defender os avanços sociais em nossos países, “a eleição na Venezuela é a batalha mais importante agora”, continuou o representante do Foro São Paulo. “Espalham que a eleição está dividida, acusam-nos de ingerência, quando isto é solidariedade. Trata-se de defender a nós mesmos, defender o processo de transformação em nossos países”.
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Não é um simples processo eleitoral o que está acontecendo na Venezuela, segundo João Pedro Stédile. “Está em jogo a disputa entre dois projetos, seu resultado altera a correlação de forças para todo o continente. Por ser uma luta entre o projeto dos capitalistas e o do povo latino-americano, a eleição adquire conotação de luta ideológica”. Para Stédile, os adversários de Chavez representam aqueles que não aceitam que os povos da América Latina dirijam seus destinos, e tentam de todas as formas retomar o poder como em 1964 aqui e depois nos demais países. Como disse o deputado Adriano Diogo (PT), “a revolução venezuelana é barreira importante na defesa da ação cruel e assassina do imperialismo na América Latina. São sempre os mesmos contra o povo, aqui botam fogo nas favelas e lá nas refinarias”. O caráter internacionalista do processo no país irmão foi saudado em vários dos pronunciamentos, como o de Nalu Faria. “Lembro em 2001, na luta contra a ALCA, Chavez era uma estrela solitária, hoje temos avanços a celebrar nesta luta da Aliança Bolivariana”.

Chavez abriu um novo ciclo político nas Américas, em 1998, como disse Ricardo Abreu Alemão, pelo PC do B. “Esta reeleição é o fortalecimento de nossa luta anti-imperialista, é vitória dos brasileiros que lutam por uma verdadeira democracia”. Destacando o tipo de integração que a Venezuela representa, refundando o Estado tendo o povo como protagonista, Alemão lembrou do novo Mercosul que temos, “que acaba de receber a Venezuela e vai receber o Equador, a Bolívia e todos os países da Alba e da América do Sul para fazer essa integração verdadeiramente solidária, econômica, social, política e cultural”.

Luta de classes na mídia

Henrique Capriles Radonski, o adversário de Hugo Chavez, é parte da família que monopoliza os meios de comunicação na Venezuela. “El primer grupo de medios de comunicación en el mercado venezolano, líder en información, formación y entretenimento”, é como se define no país a “Cadena Capriles”. Não espanta que exista forte campanha contra Chavez na mídia, que o acusa inclusive de tolher a liberdade de expressão (repercutindo cá e alhures). Lá como cá, a grande imprensa é partidarizada e sem compromisso algum com a verdade e a ética. Não à toa, existe uma “escandalosa e indecente campanha que a imprensa brasileira faz contra Hugo Chavez”, como disse o jornalista e escritor Fernando Morais, um declarado chavista.
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“A liberdade de imprensa está escancarada diariamente nos grandes jornais de lá”, disse Morais, contando que tem desafiado os jornalistas a abrir na internet os três mais tradicionais jornais venezuelanos sem encontrar diariamente matéria contra Chavez. Levantamento feito pela ONU concluiu que a Venezuela é hoje o país com menores desigualdades na América Latina, lembrou o escritor, “e essa notícia saiu em pé de página; não há um preso político na Venezuela, Chavez ganhou em todas as onze (11) eleições que disputou, façamos meios de comunicação para desmentir esse veneno que desfigura a opinião de nossos jovens”.

“Recordemos a campanha contra a Alca”, disse Ricardo Gebrim, da Consulta Popular, “nossos meios atingiram milhões, devemos enfrentar a campanha de calúnias e difamação da grande imprensa”. Também jornalista, Max Altman propôs a mesma coisa aos participantes do ato. “Cada vez que virmos notícia mentirosa, caluniosa, utilizemos a internet para rebater junto aos nossos ‘mailings’”. Internet que está “roendo por dentro como cupim”, falou Morais referindo-se a também colonizada imprensa brasileira. “Lamentável que em 10 anos de governo de esquerda não se muda a lei de comunicação por aqui”.

Educação, feminismo, Estado presente

O presidente da UNE, Daniel Iliescu lembrou das lutas de resistência das gerações anteriores e emocionou-se ao falar dos que tombaram. Para uma plenária onde os jovens eram a maioria, Iliescu saudou a “poderosa unidade e convergência de forças” presente ali, as experiências de educação em curso na Venezuela, a luta tendo o socialismo como horizonte. Além do internacionalismo da revolução bolivariana, Nalu Faria celebrou o protagonismo das mulheres nessa construção e o reconhecimento disto por parte do Estado. “Não há socialismo sem feminismo”, foi declaração assumida pelo presidente Chavez, segundo a representante da MMM.

Plinio de Arruda Sampaio, falando pelo PSOL, disse ter conhecido a Venezuela antes e depois de Chavez e quanta diferença! Contou que estava lá quando do terrível terremoto e ficou “impressionado com as ações de Chavez, que parece ter ficado sem dormir por 3 ou 4 dias”. Também no campo trabalhista, o governo venezuelano marca pontos. Falando pela CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros), Nivaldo Santana diz que no 1º de maio deste ano os trabalhadores do país vizinho receberam um novo Código de Trabalho, onde existem medidas legais para combater a precariedade do trabalho e também para impedir demissões sem justa causa. Socorro Gomes, falando pelo Cebrapaz, lembrou do sucesso de Chavez no plano para o fim do analfabetismo, e também denunciou “a grande mídia a serviço do imperialismo, lá e aqui, que quer destruir o projeto a favor de nossos povos”.

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Outros integrantes da Campanha Brasil com Chavez estiveram na mesa do ato – Lázaro Méndez Cabrera, cônsul de Cuba em São Paulo; Dora Martins, da Associação de Juizes pela Democracia; Gegê, do Movimento de Moradia do Centro; André Tokarski, da União da Juventude Socialista; o deputado Simão Pedro (PT) e o vereador Jamil Murad (PC doB). Houve ainda uma parte musical a cargo de brasileiros e venezuelanos. Pedro Munhoz, autor da canção da campanha brasileira abriu o evento; para fechá-lo, houve apresentação de Tobias e parte da bateria da Escola de Samba Vai Vai e do grupo de percussão afro venezuelana Tambores Bombayá, que disseram ser muito importante esta solidariedade brasileira.

O embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilian Arvelaiz, encerrou a parte política do evento. Emocionado, disse sentir aquela “ternura do Che” por parte dos companheiros brasileiros. “Sabemos de nossa responsabilidade frente a todos da América Latina”, falou. “A burguesia luta com seus instrumentos e, entre eles, o mais importante é a mídia. Serão semanas e dias muito intensos, alerta e vigilância absoluta é necessária, porque a direita venezuelana trabalha com o apoio da direita internacional.” No Brasil não é diferente e se estivéssemos unidos internamente a exemplo deste ato, estaríamos em outro patamar político, como disse Adriano Diogo. Mas estamos mais que solidários, continuamos na luta por soberania popular em toda a América Latina e, como disse Gebrim, “com a confiança de que estamos do lado certo da História”.

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