A Prefeitura de São Paulo, com apoio da Justiça estadual e da Polícia Militar, continua a todo o vapor em sua política de impedir a ocupação de imóveis abandonados na centro da cidade e de retirada das pessoas que insistam em lutar pelo direito constitucional de moradia em uma área que já possui toda a infra-estrutura de saúde, transporte e educação. Na noite dessa quinta para sexta-feira (9 a 10 de fevereiro) o alvo foi o antigo Hotel Pão de Açúcar, localizado na Rua Conselheiro Nébias, 314, esquina com a Rua Vitória. No edifício sem uso há quase dez anos, segundo a ex-moradora Rita de Cássia Pereira, viviam 178 famílias, incluindo 78 idosos, 98 crianças e três deficientes físicos.
Depois da desocupação dos casarões e prédios usados como refúgio para usuários de Crack em janeiro, classificada pelo Ministério Público como desastrosa, um a um estão sendo “reintegrados” (ou seja, entregues aos “donos” para continuarem lacrados e sem uso) os dez edifícios ocupados por famílias ligadas a movimentos como o MSTC – Movimento dos Sem Teto do Centro e a FLM – Frente de Luta por Moradia em novembro de 2011. A mais rumorosa foi a reintegração de posse do último dia 2 de fevereiro, que levou 230 famílias a montarem acampamento na calçada da Avenida São João, em frente a um antigo cine pornô, quase na esquina com a Avenida Ipiranga, local que ganhou destaque na MPB com a música Sampa, de Caetano Veloso.
Sem poder impedir à força que as cerca de 120 crianças da ocupação ficassem na calçada com as mães, a PM e a CGM- Guarda Civil Metropolitana destruiram na própria quinta, 2 de fevereiro, os abrigos de madeira improvisados para amenizar o calor e proteger da chuva. No domingo, dia 5 de fereveiro, agentes da GCM usaram cassetetes, gás de pimenta e bombas de efeito moral para tentar, sem sucesso, dispersar os ativistas. “Depois disso, o Ministério Público entrou com uma ação contra a GCM que nos deu um pouco mais de tranquilidade e pudemos esticar essas lonas para proteção”, explica a coordenadora do MTSC Jussamara Leonel Manuel. “Nós só queremos uma solução de moradia para essas pessoas que não signifique a desintegração das famílias, mas até agora o poder público não ofereceu nada”.
Com a desocupação do Hotel Pão de Açúcar, mais 55 famílias aderiram ao acampamento. Diferente dos ocupantes originais da calçada, os novos desabrigados conseguiram garantir na negociação para a reintegração de posse, que ocorreu sem violência, o cadastramento em futuros programas de moradia popular. “Passamos quase o dia toda nas filas para informar os documentos e número de familiares”, conta Rita Pereira. “Mas na verdade não sabemos o que a Prefeitura vai fazer com esses dados porque não recebemos qualquer protocolo ou comprovante do cadastramento e nem informações sobre os projetos pra gente”.