Mulheres de diversos países levantam a voz contra a violência em Assembleia no Pelourinho

A Assembleia Mundial de Mulheres, no Terreiro de Jesus (Pelourinho), foi a única atividade no horário do FSM 2018. O encontro, que fez parte da programação do Fórum, foi aberto com uma roda de capoeira composta apenas por mulheres e marcado por discursos “inflamados” e gritos de ordem, como: “Marielle Franco, presente”, “Feminismo é Revolução”, frases que foram repetidas em diversos momentos.

O principal objetivo do encontro foi expor os dez pontos inegociáveis da luta feminista, para uma agenda internacionalista e inadiável, entre eles: o reconhecimento do trabalho produtivo e reprodutivo; o fim dos feminicídio e transfeminicídio e todas as formas de violência contra a mulher; o direito de as mulheres decidirem sobre o seu corpo; emancipação e poder político; fim da utilização do corpo das mulheres como arma de guerra.

O acesso universal à educação emancipadora e não sexista; contra o racismo, a xenofobia, o genocídio e o encarceramento da população negra, indígena, migrantes e pobres; o reconhecimento da identidade de gênero com respeito e dignidade; contra a misoginia, silenciamento e a invisibilização das mulheres; contra o patriarcado; pela justiça climática e contra o capitalismo, colonialismo e o imperialismo também fazem parte da proposta dos pontos inegociáveis.

Leia na íntegra a Decálogo Feminista Inegociável

Logo no início, a Assembleia foi batizada com o nome de Marielle Franco, e foi marcada pelo impacto da notícia e das mobilizações de protesto contra a sua execução no Rio de Janeiro.

Eda Duzgun, liderança das mulheres curdas e integrante do Conselho Internacional do FSM, iniciou a série de falas das feministas, pontuou a luta pela libertação das mulheres, o rompimento do sistema capitalista e patriarcal, e ressaltou o feminicídio. “A primeira bandeira a ser suspendida aqui é por Marielle Franco e todas as mulheres assassinadas em todo o mundo. Neste momento precisamos unir as lutas contra os que a mataram, ou outras serão mortas”, disse Eda.

De acordo com Fátima Fróes, da Rede Mulher e Mídia, o que uniu todas as mulheres na Assembleia foram os dez pontos inegociáveis, que são mundiais e urgentes, entre eles está o fim do feminicídio, um dos que encabeçam a lista. “A partir da Assembleia, criaremos a Frente Mundial Mulheres de Esquerda”, informa ela.

“O desafio é integrar mulheres de diferentes classes sociais e países. A luta tem muitos pontos em comum: contra a violência, o desemprego e outras formas de discriminação. Este momento é de mostrar que temos uma pauta comum”, disse a presidenta do Fórum de Mulheres do Mercosul, Emília Fernandes.

Além dos protestos pela execução da vereadora carioca Marielle Franco, as mulheres subiram ao palco para condenar todas as formas de violência e discriminação sofridas e pedir a libertação de seus territórios.

“Ainda que haja violência no Brasil, ainda é um país onde podemos falar de tudo, o direito de se expressar é respeitado. A violação dos direitos das mulheres é grave, e o Fórum Social Mundial, com essa pluralidade de culturas, é o lugar ideal para discutir esse problema”, disse a ativista que luta pela libertação do Saara Ocidental, Cheja Saharaui.

Em meio às tantas manifestações durante a Assembleia Mundial das Mulheres, um coro uníssono ecoava ao longe, e aos poucos o canto entoado tomava conta do “Terreiro”. Era a chegada em cortejo das indígenas de várias étnias, e foi tida como uma das mais emocionantes. Um Toré, “ritual sagrado” que celebra a amizade entre aldeias distintas e reafirma o sentimento de grupo e de nação, foi realizado em meio a praça, em forma de proteção.

Entre tantas lutas feministas, a cacique Maria Kiriri, da tribo Kiriri, em Muquém de São Francisco (oeste da Bahia), destaca que a principal delas para as mulheres indígenas é a autoridade patriarcal, que “legitima” o poder do homem sobre a mulher. “Meu marido disse para eu escolher entre ele e a luta feminista. Escolhi a luta”.

“Basta de silêncio. Basta de sermos invisíveis. Aqui estamos presentes e por isso queremos que respeitem os nossos direitos. Estamos juntas, agora e sempre”, disse a Madre de la Plaza de Maio, Nora Cortinãs.

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