Comissão da Verdade e da Justiça. Quando a pressa é inimiga

Aconteceu dia 27 de junho uma Audiência Pública para discutir sobre o Projeto de Lei da Comissão Nacional da Verdade. Foi naquele prédio público onde ficam os deputados eleitos para representar o povo paulista (sic), e que, neste caso, ironicamente está situado ao lado do Círculo Militar e atrás da 2ª Divisão do Exército, Divisão Presidente Costa e Silva – um dos ditadores mais violentos que tivemos e que fez o Ato Institucional nº 5 para ter poderes supra constitucionais. O local é cercado simbolicamente das representações militares, sem que se perceba, sugere que o passado ainda tem muita influência na democracia de hoje.

Projeto original.

O Projeto de Lei original cria a Comissão Nacional da Verdade para examinar e esclarecer as graves violações, efetivar o direito à memória e a verdade histórica, isto é, lavar a roupa suja publicamente, e diga-se bem suja, o objetivo é que haja a reconciliação nacional.

Desde maio de 2010 que este PL 7376 está pronto, mas “por causa de forças ocultas” e não ocultas, estava parado no Congresso, isso não impediu que ele fosse discutido por muitos e também pelo Coletivo de Mulheres pela Verdade e pela Justiça e pela Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos, o resultado dessa discussão foi que em alguns pontos este projeto original precisará ser alterado.

Principais alterações.

Nas reuniões ficou estabelecido que são necessárias novas diretrizes para a criação desta Comissão:

– Apuração dos crimes cometidos pela ditadura militar;

– Para que nunca mais aconteça;

– Pela consolidação da democracia.

Outros pontos são:

• resgate do nome original “Comissão da Verdade e da Justiça”;
• redução do período da investigação para 1964 a 1985;
• troca da expressão” reconciliação nacional” por “consolidação da democracia” e
• “as atividades da Comissão Nacional da Verdade não terão caráter jurisdicional ou persecutório” deve ser substituída por uma nova redação que encaminhe os resultados da investigação para as autoridades competentes.

A legitimidade da comissão é outra preocupação, por isso a seleção dos membros deverá ser discutida com a sociedade civil, em especial com os que resistiram a ditadura. Os membros não deverão pertencer ao quadro das Forças Armadas e nem aos Órgãos de Segurança do Estado, a eles deverá ser dada garantia de imunidade civil e penal e também a proteção do Estado.

Uma Comissão de 7 pessoas é pequena para analisar este enorme volume de dados durante 2 anos, a proposta é que ela tenha 15 participantes com autonomia e estrutura adequada, orçamento próprio e recursos financeiros, técnicos, humanos, etc .

Os resultados deverão ser publicados em detalhes para o conhecimento de todo país, assim a justiça se afirmará e consolidará a cultura de respeito de valorização aos direitos humanos.

Urgência, urgentíssima.

Há uma notícia de que o projeto será enviado como urgência, urgentíssima, e pela experiência dos legisladores que defendem as alterações este tipo de encaminhamento não permitirá as mudanças sugeridas. Isto será muito ruim para o Brasil na questão dos direitos humanos perante o mundo e perante os que sofreram na ditadura. A situação é crítica, o país já foi condenado há uma sentença da corte da OEA em que o Brasil é obrigado a cumpri-la no prazo de 1 ano.

Para quem não sabe, a urgência, urgentíssima é o regime de tramitação que permite a inclusão automática na Ordem do Dia de proposição para discussão e votação imediata, ainda que iniciada a sessão em que foi apresentada, a requerimento da maioria absoluta da composição da Câmara ou de Líderes que representem esse número, aprovado pela maioria absoluta dos deputados, isso quer dizer 51%. Esse regime dispensa parecer aprovado em comissão – o parecer pode ser dado oralmente pelo relator no plenário. Pelo que dá para perceber tudo fica na mão do governo federal que tem força para escolher o relator. Ele poderá aprovar o projeto de lei como foi feito originalmente. Isso seria desastroso.

Os movimentos já pediram uma audiência com a presidenta Dilma para discutir, porém tem sido constantemente adiada. É nestas horas que lembramos que a pressa, urgência, urgentíssima, é inimiga da perfeição, da verdade e da justiça.

One thought on “Comissão da Verdade e da Justiça. Quando a pressa é inimiga

  1. Comissão da Verdade e da Justiça. Quando a pressa é inimiga
    O mais esperado é que tal comissão da verdade revele ao mundo um dos dramas mais terríveis que milhares de pessoas tiveram que passar. Esses tinham carreiras promissoras, como de engenheiro, mas foram obrigados sob mira de metralhadora, já que um bando de medrosos abandonaram os alunos sem aulas, assumir cargo de docente em universidade pública ganhando um salário de fome e até sendo obrigado fazer relatório delatando amigos e estudantes.

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