Nossa equipe de comunicação do FSM 2011 visitou Gorée, uma pequena ilha a este de Dakar. Andávamos tranquilamente tentando achar o local onde estava acontecendo a leitura da carta mundial dos imigrantes. Hilde e eu fomos abordadas pelos vendedores do lugar, o comercio é bem intenso. Sem querer, entramos na “casa dos escravos”. Saí da porta, pois cobravam 500CFAS para entrar, fomos atrás de nossas amigas cirandeiras.
Mesmo sem querer paguei, pois achei ruim ter que pagar para ver de onde meus ancestrais vieram. Logo imaginei que era um lugar difícil. Não que eu não me importe com isso, mas seria uma dor terrível, e eu realmente não gosto de sentir dor.
Mas… a “Maison des Esclaves” foi construída nos anos 1780 é o edifício histórico da ilha que melhor representa a tragédia da diáspora africana. Neste local, (o último dos centros de comércio de escravos da ilha) hoje em dia um museu, os escravos, chegados de outras partes do Senegal, eram contados, pesados e separados por idade, sexo e condição física antes de serem embarcados. Nossa guia foi Rita Freire da Ciranda, pois para ter uma visita guiada deveríamos pagar, como Rita já conhece o lugar, nos apresentou.
No piso térreo, passado o portão de entrada chega-se a um pátio rodeado das celas onde os escravos eram aprisionados. Nos fundos, abre-se uma porta sobre o mar, a porta da “viagem sem volta”, sobre o ponto onde levavam os escravos até aos barcos ancorados ao largo ou, na opinião de alguns historiadores para atirar ao mar os cadáveres dos que não resistiam ao período de cativeiro.
No andar superior, hoje um museu, era o local onde se negociava compra e venda de escravos.
Como falei anteriormente, seria uma visita bem difícil, mas o mais chocante foi ver a “Gde Cellule des Recalcitrants”, um lugar minúsculo onde possivelmente um negro rebelde ficava quando não aceitava o cativeiro, as outras celas medem em torno de 2,60 por 2,60 metros e mantinham varias pessoas com pescoços e pulsos acorrentados. As condições eram precárias , as salas possuem apenas uma fresta de poucos centímetros para ventilação, comecei a imaginar quão duro e terrível foi esse período, mas não sinto dor, sinto ódio, palavra também bem difícil de usar, mas não posso negar…tentei ficar bem o resto o dia, e possivelmente o resto da viagem, pois nem tudo é assim tão terrível em gorée, lá vivesse intensamente, mas o presente, o ambiente fora da “maison des esclaves” é feliz e relaxado.
A ilha é pequena em tamanho mas tem muitas historias para contar. Em Gorée não há asfalto nem carros. As antigas casas senhoriais têm varandas e pátios ajardinados, e na praça – a única que vi – existem bancos de madeira onde se pode descansar á sombra dos baobás. Por toda a ilha artesãos e artistas expõem o seu trabalho, é como uma enorme galeria de arte ao ar livre. Sem o caos de Dakar, com tantos carros e pessoas andando nas ruas, podemos ver e negociar com calma as obras.
Nesse momento o grupo já havia se separado novamente, e lá estávamos Hilde e eu andando sem compromisso pela ilha, subimos até as ruínas de um forte onde aconteceram varias guerras pela tomada destas terras. Eram portugueses, espanhóis, holandeses, todos brigando pela ilha.
Foi impressionante, uma grande arvore de ferro serve de poste para colocar as antenas de telefonia e internet, um grande coqueiro faz a comunicação de Gorée.
Voltamos para o centro da ilha e chegamos no final de uma apresentação do grupo África Djambe, na espera do próximo barco nos reunimos numa grande mesa para apreciar uma bebida local, chegamos em Dakar em tempo de jantar, descansar e pensar no próximo dia.
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