Polícia de São Paulo é violenta novamente

Minha filha de 17 anos, estudante de ensino médio em escola pública, sentiu na pele e nas “pernas prá que te quero” o peso da repressão policial em São Paulo, pela primeira vez. Apesar dela participar de manifestações desde a barriga, ela nunca tinha visto balas de borracha atiradas a curta distância, bombas de gás prá cima de todos em resposta a provocações de alguns poucos – no meu tempo muitos destes eram colocados pela própria repressão ou pelos que eles protegem e defendem! São os primeiros aprendizados de que o Estado é violento quando quer defender as bases capitalistas que os sustentam! Já minha outra filha (de outra barriga), de 19 anos, que passou o ano preparando-se para o vestibular, diz que tem sido assim.

Manifestação contra o aumento das passagens de ônibus e metrô – um serviço que tem sido reajustado seguidamente acima da inflação – realizada na última quinta-feira, dia 13, não conseguiu chegar até a Câmara Municipal devido a bombas de gás, balas de borracha, cassetadas e prisões prá cima dos estudantes. No ano passado, o Movimento do Passe Livre em São Paulo já sofreu repressão em manifestações, só que havia menos gente. Tem sido sucessivos e extorsivos os aumentos do transporte coletivo na metrópole, que piora dia a dia em meio ao caótico trânsito provocado pelo exagero de carros da classe “mérdia”. Desde o dia 5 de janeiro, os paulistanos passaram a pagar R$ 3 para utilizar os ônibus municipais. A tarifa foi reajustada em 11%, quase o dobro da inflação, que fechou o ano de 2010 em menos de 6%.

O Movimento Passe Livre diz que participaram desta vez mais de 1.000 pessoas, a PM diz que eram cerca de 700. O Movimento diz que 30 pessoas foram presas, os responsáveis pelo policiamento dizem que foram apenas 4 os detidos. Houve também algumas pessoas feridas. O encontro dos manifestantes foi no Teatro Municipal, percorreram algumas ruas do centro com alegria e criatividade, e quando chegaram na Praça da República começaram as agressões policiais. Prá variar, a polícia aproveita manifestações individuais contra atitudes individuais de alguns policiais também, provocadores, para jogar bomba em todo mundo e amedontrar os jovens que começam a exercer sua cidadania.

Não se chuta cachorro morto!

A grande mídia nada divulga, o assunto é muito sério e os estudantes têm razão. O trânsito em SP é caótico, os meios de transporte andam abarrotados e lentos, e paga-se muito por isso. Até o direito de ir e vir nesta megalópole é proibido para os mais pobres! Dizem que a saúde é pública, a educação é pública, mas é muito caro para chegar lá. Cultura então… Os grandes projetos “oferecidos” à população, como a Virada, são concentrados num dia só – basta um ir e vir; ou então são concentrados nos melhores bairros, assim os pobres da periferia não podem participar. A segregação só cresce…

Os estudantes apenas queriam chegar até a Câmara Municipal, para chamar a atenção dos legisladores desta cidade, querem apenas o acesso universal ao transporte público e que ele seja de qualidade. Ninguém entendeu a violenta repressão, mas faz parte do aprendizado na luta, que cresce e mobiliza quando é justa. Quando o assunto é sério e tem base em direitos humanos fundamentais, as forças da “ordem” tentam impedir esse crescimento. O movimento existe em outras cidades brasileiras, como Porto Alegre (onde tem mais conquistas), Recife, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Aracajú, Distrito Federal, etc. É realmente uma discussão nacional, da mesma forma que todos os direitos humanos.

No sábado, a moçada fez um debate sobre o tema, discutindo o direito de ir e vir, a mobilidade nos centros urbanos e a necessidade de um transporte público de qualidade. Os estudantes e jovens trabalhadores da periferia não tem como vencer as distâncias e nem conhecem seus direitos básicos. Cadê as notícias nos meios de comunicação?? Como levar o debate aos estudantes da periferia, os que mais perdem e mais necessitam?

A próxima manifestação está marcada para a próxima quinta-feira, concentração às 17h, na esquina da Paulista com a Consolação.

Foto do CMI Brasil

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