“Amor não é ocupação” é o mote de campanha por boicotes aos produtos da empresa israelense Ahava. A companhia, segundo denunciam ativistas, desenvolve seus produtos em assentamentos ilegais, utilizando recursos naturais usurpados de terras palestinas. A iniciativa tem ganho corpo sobretudo nos Estados Unidos. Ziyaad Yousef, do movimento BDS (Boicotes, Desinvestimento e Sanções), conta que ação direta vem sendo feita por mulheres. Vestidas com robbies e tocas, elas recorrem ao bom humor para protestar contra a marca – que significa “amor” em hebraico. As manifestantes usam dizeres como “Você não esconde sua face suja”, numa analogia a um dos principais objetos de consumo das potenciais clientes: a lama do Mar Morto, muito usada para fins estéticos, para hidratar a pele do rosto. Segundo Yousef, com a certeza de que a mídia é a arena de batalha no século XXI, a performance é sempre filmada para exibição posterior.
Em Jericó, cidade palestina considerada a mais velha do mundo, com 10 mil anos – como indicado nas praças e pontos turísticos –, fomos procurar a tal lama no mercado árabe local. A primeira surpresa: na placa da entrada principal lê-se “Ahava Temptation” (foto), sinal claro da ocupação econômica pelo Estado sionista. Os produtos para beleza recheiam as prateleiras e atraem visitantes do mundo todo – havia inclusive um grupo de brasileiros no local. Apesar de o Mar Morto encontrar-se a poucos quilômetros do centro antigo, adquirir nas lojas a milagrosa lama, que promete pele macia e bem cuidada, só é possível se se furar o boicote a produtos de Israel. Não há autorização para palestinos quebrarem o monopólio da ocupação. Desistimos. A resposta veio menos de uma hora depois: ganhamos uma garrafa da lama de uma família palestina.
Para além dos pequenos gestos carregados de simbolismo, a clareza de que a comunidade internacional pode fazer a diferença se apoiar a campanha de BDS a produtos de Israel – tanto que há um projeto de lei circulando no Parlamento da potência ocupante cujo objetivo é coibir ações do gênero internamente. A iniciativa, como conclui Yousef, representa esperança de que é possível transformar a realidade na Palestina. E, para os que se engajarem nessa luta, a certeza de cara limpa.