Cerca de 300 pessoas estiveram na Plenária de Abertura do processo do Fórum Social de São Paulo, na noite de 9 de novembro, na FAU Maranhão, prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (USP) e raro exemplar arquitetônico da cidade. Na sala de espera, elas puderam interferir na obra aberta iniciada por Marcello Di Felippe, um painel sobre a cidade. Ao escurecer, as apresentações de uma parte do Bloco Afro Ilú Obá de Min, com suas mulheres vestidas de orixás africanos e seus tambores, e do Coral da Faculdade Zumbi dos Palmares, nos jardins do Casarão, emocionaram e inauguraram a noite em alto astral.
“A África negra foi recriada no Brasil”, saudou Beth Beli, regente do Bloco de mulheres. “Saudemos a cidade que é tão diversa, que é negra, que é branca, que é árabe, que é européia”, falou Nilton Silva, regente do Coral, conduzindo as pessoas para a plenária. A Carta de Princípios do FSSP foi distribuída aos presentes e a reunião foi conduzida por Eleilson Leite, coordenador cultural da Ação Educativa, e por Américo Sampaio, da Associação para o Desenvolvimento da Intercomunicação (ADI). “O evento começou lá fora, abriu com duas expressões culturais fortes e bonitas”, falou Eleílson, “pois cultura para nós não é adereço, é questão estruturante e os grupos são dois parceiros fortes no processo do FSSP”. Aliás, o evento foi todo construido pela parceria das organizações que vem constituindo o Coletivo de Articulação do FSSP.
“Como é possível tão poucas pessoas e tão poucas instituições dominarem o mundo?”, perguntou Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo e um dos idealizadores do FSM. Explicando que a idéia surgiu em contraposição ao Forum Econômico Mundial e historiando seu processo, Oded falou sobre os objetivos do FSM. “Colocar na cabeça das pessoas que outro mundo é possível, oferecer espaço e promover processo para a aglutinação de pessoas. No momento que elas perceberem que juntando-se podem mudar, não haverá quem segure”. O empresário ativista mostrou a importância da horizontalidade na metodologia que o Forum busca construir, onde “as pessoas se juntam porque querem, não para seguir a bandeira de alguém”, numa tentativa de contrapor-nos às práticas de competição impostas pelo capitalismo. “O FSM é oportunidade para que organizações e pessoas, comprometidas com um mundo solidário e justo, possam se juntar e ter melhores condições de construir ações”.
Outra São Paulo é necessária e urgente
“Há um sentimento de urgência em nossa cidade para a mudança de padrões”, falou José Correia Leite, também do FSM, contando como surgiu a idéia de realizar um Fórum temático neste aglomerado metropolitano. Comentando os itens da Carta de Princípios apresentada, e os problemas prementes de São Paulo, Correia deixou claro que o FSM não é neutro, embora dele não participem partidos políticos nem governantes, nessa condição. “Há setores que não se identificam com estes princípios, o Fórum é espaço de encontro para os que partilham deles, os que querem organizar lutas e polêmicas, não é espaço de disputa de poder”.
A metodologia diferenciada, por ser este um fórum local, foi explicada por Sergio Mauro Santos Filho (Sema), do Instituto Socio Ambiental. “O FSSP será realizado em dois tempos, descentralizado o primeiro e o segundo, previsto para 21 e 22 de maio, semelhante aos outros fóruns, será a construção que os participantes fizerem”. Sema explicou que como estamos próximos, numa mesma cidade, “começa hoje um processo permanente voltado a construir atividades, a idéia é que as pessoas comecem a trocar idéias e compartilhar ações”, num crescendo até maio.
Obra em progresso
O site – totalmente em software livre – foi apresentado por Cristina Fernandes, do CENPEC, ainda com poucas informações, mas já com espaço para inscrição de atividades e início de compartilhamento (http://www.forumsocialsp.org.br). Ainda com identidade provisória na sua comunicação, os participantes da plenária de lançamento também puderam votar nas propostas de logomarca para o FSSP, apresentadas por “designers” de forma colaborativa. A partir da idéia mais votada, o GT de comunicação desenvolverá a identidade final do Fórum.
Diversas pessoas expuseram demandas diversas. Defendendo outro tipo de comunicação para outro mundo possível, e denunciando os bilhões de dólares gastos pela mídia comercial para “fazer a cabeça das pessoas”, falou Sergio Miletto, pela Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação). Ele arrancou aplausos da plenária ao dizer “cada dia me sinto mais nordestino, mais mulher, mais gay, mais negro, me sinto cada vez mais na posição de todo o cidadão que vê sua dignidade ser ofendida”.
No mês da consciência negra e do dia Internacional da luta contra a violência às mulheres, ações desses segmentos estiveram na ordem do dia. As mulheres já falavam em criar um espaço feminista no FSSP, com arte e debates sobre autonomia e violência. Destacaram-se as demandas da área central da cidade, como as colocadas por Renata Moura, de Associação do Bexiga e Dora Lima, da Agenda 21 e do Fórum do Centro. Foram apresentados os Grupos de Trabalho já constituídos – Comunicação, Mobilização, Metodologia e Mobilização de Recursos. Todos e todas estão convidados a integrar o processo metropolitano que ora se inicia.
Se o alto astral que perdurou no evento alimentar o processo iniciado, o FSSP promete ser um grande encontro. “São Paulo é uma cidade rica, dotada de recursos, milhares de organizações, movimentos que muitas vezes não conseguem dialogar”, como disse Zé Correia. “Se a gente conseguir mobilizar, animar muitos desses movimentos, poderemos ter um grande impacto nas lutas por uma outra cidade”.