As mineradoras por trás do sangue em Oaxaca

De todos os conflitos de interesse gerados pelo Acordo de Livre Comercio assinado entre México, Estados Unidos e Canadá, nenhum está tão enraizado nas causas dos disturbios que ocorrem hoje no estado mexicano de Oaxaca quanto aqueles criados no país pelas mineradoras transnacionais. Em seu capítulo 11, que estabeleceu as regras para proteçao de investimentos estrangeiros, o Nafta significou uma carta branca para que empresas de fora passassem a explorar recursos naturais do Estado mexicano, no caso de Oaxaca, situados em solo indígena. Assim chegaram as mineradoras canadenses e suas empresas de fachada, com nomes diferentes em locais diferentes, dificultando aos moradores da regiao identificar a mesma origem transnacional dos seus problemas.

Entre 2006 e 2007, mais de 80 concesoes foram outorgadas para mineracao em Oaxaca, com a entrega de mais de 600 mil hectares.

San José del Progreso é exemplo de municipios que se formaram preservando experiencias milenares de autoorganizacao das comunidades, e cujo modo de gestao e de resolucao de conflitos veio abaixo com a chegada das empresas canadense Fortuna Silver Inc e Continuum Resources Ltd, através da subsidiaria mexicana “Compañía Minera Cuzcatlán” que explora 54 mil hectares en Ocotlán.

Em San José del Progreso, o sistema de renovacao de poder local (presidente do município e autoridades municipais) é definido pelos usos e costumes – uma autonomia organizativa que foi preservada por mais de 400 dos 570 municipios de Oaxaca. Votam para governador e deputados pelo sistema geral, que pela primeira vez é junto com as eleições locais. Os demais vao as urnas para eleger todos os seus representantes.

A familia de Leovigidio Vasquez Sanches e Eustaquio Vasquez Ruiz, duas lideranças de San Jose del Progreso, estava acostumada a decisoes tomadas por assembleias da comunidade. Mas sequer foram consultados em relaçao a chegada da mina, que acabou ocupada pelos moradores, em demonstracao da contrariedade e resistencia. No entanto, se viram diante de armas empunhadas pelos seguranças da mineradora. Foram expulsos com violência. Viram seus companheiros morrerem, executados por capangas. Eles explicam que a empresa tambem se imiscuiu na vida da comunidade, a ponto de forçcar a criação de uma Associacao Civica do municipio, favoravel ao seu negocio, e que acabou dividindo moradores.

Enquanto a missão de comunicação e observação atravessa o municipio de San Jose del Progreso, a paisagem por si só é um discurso do que ali se passa. Para escoar ouro e prata, o municipio ganhou estrada asfaltada. Poucos minutos passada a area de mineracao, se vê uma caminhonete abandonada no meio da pista. Os vidros estão perfurados a bala. Dele foi retirado em estado grave o padre Martin, liderança religiosa baleada por utilizar a missa para fazer comentários de alerta a comunidade. O padre está hospitalizado.

A mesma sorte nao teve a mexicana Alberta Carinho Trujillo, caçada por um grupo paramilitar que conseguiu assassina-la ao emboscar uma caravana da qual a jovem ativista, de 30 anos de idade, fazia parte. O motivo, segundo uma das maiores liderancas da resistencia popular em Oaxaca, Flavio Sosa, é que Beth estava marcada para morrer devido ao seu ativismo critico a presença das mineradoras na regiao.

Controversias

O México já se envolveu em 22 controvérsias no âmbito do Nafta, e perdeu todas, relata Martin Velasquez, da organizaçao Comcausa a participantes da Missao Internacional de Comunicaçao e Observaçao de Direitos Humanos que percorreram municipios de Oaxaca nos dias que antecederam as eleicoes no Estado .

As controvérsias sao disputas estabelecidas para dirimir conflitos de interesses entre países e corporacoes envolvendo projetos regidos pelo Acordo de Livre Comercio que o país firmou com os Estados Unidos e Canadá. Essas disputas incluiram tentativas mexicanas de garantir direitos relacionados ao atum, de proteger seu milho contra o produto transgênico, entre outras. E uma por uma, o país foi sendo derrotado em todas as suas demandas. Venceram as empresas. O Acordo de Livre Comércio acabou prevalecendo sobre interesses nacionais, inclusive de soberania alimentar, gerando todo tipo de resistência, a exemplo da campanha popular “Sin mays no hay país” (sem milho nao ha pais), iniciadas por organizacoes como a Comcausa contra a Monsanto

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