Ataques do Estadão à UNE

Augusto Chagas é presidente da UNE

A principal manchete do jornal O Estado de São Paulo deste domingo acusa: “UNE é suspeita de fraudar convênios”. Em toda a página de abertura do caderno, o jornal julga: “a UNE
fraudou convênios, forjou orçamentos”. Categoriza-nos de “aliados do
governo” e afirma: “a organização estudantil toma dinheiro público, mas
não diz nem quanto gastou nem como gastou”.
A afirmação “UNE
é suspeita” não veio de nenhum órgão de polícia ou de controle de
contas públicas, é uma afirmação de autoria e responsabilidade de O Estado de São Paulo. A principal acusação é de um orçamento de uma empresa não localizada, que aparece numa previsão orçamentária.
De resto, outro orçamento de uma empresa que funciona num pequeno
sobrado e especulação sobre convênios que ainda não tiveram suas contas
aprovadas.

O fato é que a UNE nunca
contratou nenhuma das duas empresas, apenas fez orçamentos, ao
contrário do que a matéria, de modo ladino, faz crer. Sobre os
convênios, o jornal preferiu ignorar as dezenas de convênios públicos
executados pela UNE nos últimos anos – todos
absolutamente regulares. Ignora também os pedidos de prorrogação de
prazos feitos aos convênios citados, procedimento usual e que não tem
nada de ilícito.

A
diferença no peso dado a duas notícias na capa desta mesma edição
evidencia mais ainda suas opções. Com muito menor destaque, denuncia os
vídeos e gravações de um escândalo de compra de parlamentares, operadas
pelo próprio governador do Distrito Federal. Apenas a penúltima página
do caderno trata do escândalo, imperceptível sob a propaganda de um
grande anunciante do jornal. Uma pequena fotografia mostra os R$100 mil
que foram anexados ao inquérito divulgado pela Polícia Federal. A
matéria, em tom jornalístico, não acusa. Pelo contrário, diz que os
vídeos, “de acordo com a investigação”, revelam um suposto esquema de
corrupção. Talvez o jornalista não tenha assistido às gravações…


pelo menos 17 anos este jornal não oferecia à União Nacional dos
Estudantes uma manchete desta proporção. A última acontecera no Fora Collor. A hipocrisia da sua linha editorial precisa ser repudiada. Não apenas como esforço de defender a UNE das calúnias, mas para desmascarar os seus reais objetivos.
O
principal deles é a desqualificação e criminalização dos movimentos
sociais. O MST enfrenta um destes momentos de ataque, seja através da
CPI recriada no Congresso pelos ruralistas, seja através da sistemática
campanha que procura taxá-lo como “criminoso” para a opinião pública.
As Centrais Sindicais sofrem a coerção econômica do patronato,
policialesca do sistema judicial, e a injúria de parte da grande mídia.
A UNE, que acaba de construir o congresso mais
representativo dos seus 72 anos de vida, foi tratada como governista,
vendida, aparelhada e desvirtuada de seus objetivos pela maioria das
grandes rádios, jornais e revistas.

A
grande imprensa oscila entre atacar os movimentos sociais ou ignorá-los
– como fez recentemente com a marcha de mais de 50 mil trabalhadores
reunidos em Brasília reivindicando a redução da jornada de trabalho.
Este jornal, por exemplo, não achou o fato importante a ponto de
noticiá-lo.

As
organizações populares e democráticas devem ter energia para reagir
prontamente. É fundamental que o façam de maneira unificada,
fortalecendo-se diante dos interesses poderosos que enfrentam. Que
fique claro: o setor dominante tenta impedir as profundas
transformações que estas organizações reivindicam e que são tão
necessárias à emancipação do povo brasileiro e à conquista da real
democracia no país.

A manchete do Estadão
evidencia também a maneira como a grande mídia trata o problema da
corrupção no Brasil: como instrumento de luta política por seus
objetivos e com descarado cinismo. Seja pela insistente campanha para
desconstruir no imaginário popular a crença na política e no Estado, ou
pelas escolhas que faz ao divulgar com destaque desproporcional
irregularidades que envolvem aliados ou adversários, criando ou
abafando crises na opinião pública.

Na verdade, pouco fazem para enfrentar os verdadeiros problemas da apropriação privada daquilo que é público. A UNE,
pelo contrário, sempre levantou a bandeira da democracia. Alguns de
nossos mais valorosos dirigentes deram a vida lutando por ela. E
afirmamos com veemência: a UNE trata com absoluta
responsabilidade os recursos públicos que opera e os aplica para
atividades de grande interesse da sociedade.

Às
vésperas da primeira Conferência Nacional de Comunicação, o movimento
social deve intensificar a luta pelos seus direitos. O enfrentamento à
despótica posição da mídia brasileira é um dos grandes desafios que o
país terá na construção da democracia que queremos.
O
movimento social brasileiro vive um momento de grande unidade, que pode
ser visto pela sólida relação entre as Centrais Sindicais e pelo
fortalecimento da Coordenação dos Movimentos Sociais. Não à toa, a UNE
foi mais uma vez atacada. “Saibam que estamos preparados para mais
editoriais, artigos, comentários e tendenciosas ‘notícias’”, afirmei em
artigo publicado no dia 24 de julho, apenas cinco dias após a
realização do nosso 51º Congresso. Os meses que se passaram não
tornaram a afirmação anacrônica. Pois que todos saibam que a UNE não transigirá um milímetro de suas convicções e disposição de luta por um Brasil desenvolvido e justo.