Honduras: o Brasil acertou

O desespero da direita brasileira, hoje
representada em grande escala pela mídia hegemônica e alguns
políticos do gênero senso comum, é visível. No jornalismo diário os
reflexos são visíveis, como no caso da embaixada brasileira em
Honduras, episódio tratado de forma a confirmar que a imprensa
deixou de ser quarto poder para se tornar aparelho ideológico do
capital.

O despeito se reflete até nas manchetes dos jornais
e alguns questionamentos dos colunistas de sempre. Um deles, que faz
o gênero panfletário a favor, considerou o golpe militar que
derrubou o presidente legítimo de Honduras, Manuel Zelaya, como um
“golpe democrático”, um conceito que remete ao Brasil de abril de
1964 e aos editoriais dos principais jornais em apoio à derrubada do
presidente constitucional João Goulart.

A mídia e políticos
sem bandeira, sobretudo do Demo e do PSDB, consideram que o governo
Lula agiu de forma “chavista” ao permitir o ingresso de Zelaya na
representação diplomática brasileira em Tegucigalpa. O que eles
queriam? Que os diplomatas entregassem ao cadafalso o presidente
constitucional de Honduras?

Associados a direita
encontram-se atualmente os ex-comunistas do PPS. O Deputado Roberto
Freire, o tal que entregou de bandeja à Fundação Roberto Marinho os
arquivos do Partido Comunista Brasileiro, e o parlamentar Raul
Jungmann fizeram pronunciamentos vergonhosos, somando-se aos
boquirrotos da direita que pedem a convocação do Ministro Celso
Amorim no Congresso para explicar se o ingresso de Zelaya na
Embaixada brasileira estava ou não acertado de antemão. Freire é um
exemplo concreto de que na fauna política o pior que existe são os
ex, especialmente os ex-comunistas.

Convocar Amorim, um dos
principais quadros da diplomacia brasileira dos últimos tempos, não
passa de uma provocação barata de políticos sem bandeira que se
desesperam diante da evidência de que Lula é realmente uma liderança
mundial, considerado por órgãos de imprensa insuspeitos do exterior,
como a revista estadunidense Newsweek, o político mais popular do
planeta.

Os brasileiros só têm de se orgulhar do
posicionamento incisivo do governo Lula de condenação total do golpe
militar e apoio a Manuel Zelaya, inclusive colocado com muita
clareza no Conselho de Segurança das Nações Unidas pelo Ministro
Celso Amorim, que aceitou os argumentos, embora a manchete de O
Globo, na linha da direita, como sempre, tenha dito que “a ONU não
condena no tom que o Brasil queria”. Se dependesse apenas da mídia
golpista brasileira, nada teria acontecido na ONU.

A fauna
de críticos despeitados da política externa do governo Lula ficaria
incompleta se não fossem mencionados diplomatas que serviram ao
governo FHC, entre os quais Luiz Felipe Lampreia, não ficando atrás
o ex-Ministro Celso Lafer, para quem não se lembra, o cara que tirou
os sapatos na alfândega dos Estados Unidos para ser revistado, isso
durante a gestão que exercia no mandato do presidente Cardoso. Para
eles, da mesma forma que a oposição de direita da Câmara dos
Deputados e Senado, a presença de Zelaya na embaixada em Tegucigalpa
prejudica o Brasil, quando acontece exatamente o
contrário.

Não há como prever o desfecho do caso hondurenho,
pelo menos no momento que esta reflexão estava sendo elaborada,
neste domingo (27). Um fato grave que obriga o governo brasileiro a
adotar uma posição ainda mais incisiva em relação aos golpistas.

O ministro-conselheiro de Negócios do Brasil em Honduras,
Francisco Catunda confirmou o lançamento de gases tóxicos no local,
como denunciou o Presidente Manuel Zelaya, que provocou problemas de
saúde nas pessoas que lá se encontravam. Trata-se de um ato de
guerra, que precisa ser respondida a altura. O que aconteceria se os
golpistas hondurenhos fizessem isso na Embaixada dos Estados Unidos?
O mundo ia abaixo e nesta altura do campeonato não seria surpresa se
os marines estadunidenses desembarcassem por lá.

Os gases
tóxicos desovados na embaixada são de fabricação israelense e
entraram no país em vôos clandestinos. É preciso apurar a denúncia e
punir com rigor os responsáveis, para começar um tal de Yehuda
Leitner, terrorista israelense que age na América Central com o
apoio da CIA e do Mossad, os respectivos serviços secretos dos
Estados Unidos e Israel que derramam sangue pelo mundo.

A
crise em Honduras é extremamente grave. Os golpistas sob o comando
de Ricardo Micheletti não querem deixar o poder que pegaram a força.
Matam, torturam e amordaçam a imprensa, segundo denúncias de
entidades defensoras dos direitos humanos. Falam em eleições em
novembro, algo absolutamente ilegítimo em função do clima repressivo
que se abateu sobre o país. A comunidade internacional não
reconhecerá quem for eleito.

É o caso de perguntar: e a
saída, onde se encontra a saída? Num debate realizado na TV Cidade
Livre, a TV Comunitária de Brasília, apareceu uma sugestão que
poderia ser encampada pelo governo brasileiro e pela comunidade
internacional: o envio imediato de capacetes azuis das Nações
Unidas, como aconteceu em Timor Leste, que dariam segurança para a
realização de eleições presidenciais e permitiram um ponto final ao
violento esquema repressivo que se abateu sobre o povo hondurenho.

Se o governo brasileiro bancar a idéia, Lula vai ganhar mais
pontos ainda no tabuleiro internacional e o Brasil, como nunca em
sua história, consolidará a liderança que ocupa, não apenas na
América Latina como agora em todo o mundo