Marina Silva e as identidades representadas

Marina Silva e as identidades representadas

02 de setembro de 2009, por Bruno Lima Rocha

A ex-ministra do Meio Ambiente e senadora pelo Acre, Marina Silva, deixou o PT para se filiar ao PV. Tanto o caso de sua saída como o fato de haver optado seguir por dentro do bloco que compõe o governo Lula são de amplo domínio. Particularmente, entendo que esse arroubo de desencanto chegou tarde por dois motivos. É tardia sua crítica paulatina e moderada aos anos de Luiz Inácio. E, no que diz respeito à lida política cotidiana, sua entrada na legenda dos Verdes não irá transformar a cultura interna desse partido.

Embora tenha uma aura correta, o Partido Verde termina por optar pelas alianças táticas de conveniência. Pode até alegar que seu maior interesse como agrupação política são as temáticas ambientais. Isto, em tese, justifica o PV ser co-governo com PSDB, DEM, Lula (PT) e mais quem vier. Em todos os níveis de governo, o padrão é não ter padrão. Assim, podemos afirmar de maneira ponderada que a nova legenda de Marina é mais uma legenda brasileira, com algumas virtudes e abundância de mazelas.

Entendo que a maior mazela do PV como proposta não é a convivência com as legendas tradicionais, verdadeiras escolas de patrimonialismo. O grande problema é a ausência de sujeitos organizáveis com um mínimo de coerência interna. Explico. Ao contrário dos seus referentes europeus, o movimento brasileiro em defesa do meio ambiente tem raízes que ultrapassam qualquer conservacionismo. Quando uma visão de desenvolvimento sustentável, baseada na defesa dos recursos naturais não renováveis vem à tona na sua expressão social, conservar significa literalmente manter o estilo de vida de populações inteiras.

Como a companheira de lutas de Chico Mendes bem o sabe, geralmente estas lógicas sociais implicam em não deixar de existir como tal. Nestes processos, a identidade e o modus vivendi tornam-se sujeitos sociais passíveis de ser organizados e ansiosos por protagonismo. Este é um dos fatores que permitem a existências de redes e movimentos populares garantindo a defesa específica, mas também unificando ribeirinhos, seringueiros, pescadores, remanescentes de quilombos, posseiros e os povos originais (erroneamente chamados de indígenas). É na fronteira viva da Amazônia Legal onde se encontra o caldo de cultura para esta possível unidade e ao mesmo tempo se sente o duplo discurso do Estado brasileiro. Fala-se em desenvolvimento sustentável e pratica-se a exploração desenfreada, sem planejamento e em larga escala.

Pelo visto, é Marina quem vai catapultar o PV e não ao contrário. Ainda que a senadora acreana seja autêntica e reconhecida entre estes sujeitos sociais, sua nova legenda política não tem legitimidade para incidir nestes setores. Quando as identidades são baseadas em um modo de vida, as estruturas de intermediação política importam pouco ou nada.

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