Uma marcha mundial pela paz

Uma mensagem que pode parecer utópica a muitos, mas para outros tantos já é crucial e urgente, atravessará o planeta a partir do dia 2 de outubro próximo. Na data – uma homenagem ao nascimento do líder pacifista Mahatma Gandhi – terá início a “Marcha mundial pela paz e pela não violência”, saindo da Nova Zelândia e chegando ao Aconcágua, na Argentina, três meses depois, passando por todos os continentes e cerca de 90 países, inclusive o Brasil. Iniciativa da organização “Mundo sem guerras”, o movimento pretende conscientizar povos e governos sobre o tema. Sustentado basicamente pela militância voluntária, já conta com apoios importantes, como dos presidentes do Chile, Michelle Bachelet, e da Bolívia, Evo Morales. Em entrevista, o porta-voz internacional da marcha, o espanhol Rafael de La Rubia, falou sobre as motivações e objetivos da ação global.

Como nasceu a proposta da marcha mundial pela paz e pela não violência?

A ideia surgiu da associação humanista “Mundo sem guerras” e resultou de uma confluência de fatores. Por um lado, observar um agravamento internacional com cada vez mais conflitos. Por outro, a impotência dos cidadãos que querem a paz frente a governos que não resolvem seus problemas enquanto mantêm posturas beligerantes tanto na política exterior, quanto internamente. Além disso, diante da atomização dos grupos pacifistas e não violentos no mundo, exigia-se uma ação que aglutinasse a todos os que estamos lutando por esses ideais de paz. Compreendeu-se a necessidade de dar uma resposta mundial a um problema global, pois as respostas locais e parciais não foram eficazes. Esses são muito sinteticamente alguns dos elementos que estão na origem da marcha.

Quem está envolvido com a organização politicamente?

A marcha tem um componente político muito claro, com reivindicações como: eliminação total das armas nucleares; retirada dos exércitos que ocuparam territórios em outros estados; assinatura de tratados de não agressão; desarmamento progressivo e gradual; e renúncia à guerra como forma de resolver conflitos. Porém, a marcha não está ligada a qualquer partido, está aberta a todos que apoiem essas propostas.

Do ponto de vista logístico e financeiro, como o movimento se viabiliza?

Os membros da equipe base que farão o percurso simbólico (da Nova Zelândia à Argentina) se autofinanciam e os eventos e atos em cada país serão custeados pelas organizações locais. Não temos grupo financeiro que nos dê suporte e queremos nos manter independentes para ter total liberdade de ação e expressão.

Como estão as adesões ao movimento? Está tendo a repercussão esperada?

Está chegando uma grande quantidade de adesões. É notável que estejam aderindo também líderes de governos, o que é uma novidade. Começou com a presidente do Chile, Michele Bachelet, depois vieram Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador. Mas há apoio também em outros campos, são cerca de 2 mil organizações, detentores do Prêmio Nobel, artistas, intelectuais, somando mais de 400 mil adesões.

A proposta da marcha parece bastante utópica, tendo em vista a quantidade de conflitos étnicos, religiosos e políticos, que quase invariavelmente levam à violência. Quais as chances reais de acabar com as guerras e fazer com que os países se desarmem?

Primeiro, é preciso criar consciência – o que é bastante difuso, mas decisivo – sobre a necessidade da paz ou não se vai alcançá-la. Temos um exemplo recente de como em pouco tempo houve conscientização com o tema ecológico. Hoje, todo o mundo sabe que não é conveniente poluir, o que não era tão evidente há poucos anos. Será possível acabar com as guerras no dia em que as pessoas saírem às ruas em todo o globo e exigirem isso dos governos. Como há pouco fez o povo estadunidense, votando por outra opção.

E como criar uma cultura geral de não violência? Como isso está presente no dia a dia das pessoas e como elas podem mudar?

Temos que caminhar para um humanismo social, que tenha como centro o ser humano, é preciso lutar contra a discriminação de qualquer tipo. Dinheiro, Estado, religião devem estar a serviço do ser humano e não o contrário, como ocorre hoje. Potencializar o desenvolvimento da ciência e do conhecimento, mas sempre a serviço do homem e não contra ele, como se faz nas pesquisas militares que visam a destruição. Queremos criar consciência de que a violência e o confronto não são o caminho, não são a solução dos problemas. Além disso, a violência não é só física, há também outras formas, como racial, religiosa, econômica, de gênero, ou psicológica. Esses são elementos que, junto com a metodologia da não violência e com essa marcha mundial, podem criar novas condições para virarmos uma página e sairmos definitivamente da pré-história humana.

Para saber mais:
www.marchamundial.org