O uso da infância

Assistir à TV aberta aos domingos não é uma experiência
prazerosa. Faltam iniciativas interessantes que substituam os
programas de auditório, que se repetem a cada semana com a mesma
fórmula. Em vez de apostarem em produções mais criativas, para buscar
elevar a audiência, os canais acabam apelando.

Já teve de tudo: o polêmico sushi erótico, em que mulheres seminuas
eram transformadas em bandejas cobertas com comida japonesa para o
deleite dos convidados masculinos; a brincadeira da banheira, na qual
casais, de biquíni e sunga, disputavam qual deles conseguiria tirar o
maior número de sabonetes; e os aviãozinhos de dinheiro jogados para a
platéia.

Nas últimas semanas, mais um triste episódio entrou para a história.
Mas, desta vez, a protagonista foi a infância. Ao participar de duas
edições do Programa Sílvio Santos, do SBT, a menina Maisa, de apenas
seis anos, apresentadora infantil, chorou frente às câmeras.

Na primeira vez, ela se assustou com um garoto vestido de monstro. Na
segunda, foi ridicularizada por ser medrosa. Confusa, ainda bateu com
a cabeça em uma das câmeras do estúdio.

Nos dois momentos, enquanto Maisa berrava e chorava, o apresentador
Sílvio Santos e a platéia – em sua maioria formada por mulheres e
possivelmente mães – riam da menina. As cenas já viraram febre no You
Tube.

Alguns dizem que tudo pode ter sido combinado nos bastidores. O fato é
que houve um desrespeito com a infância. É digno e ético usar uma
criança para tal fim? É engraçado? Podemos aprovar tal atitude?
Lamentável. O Ministério da Justiça advertiu o canal.


Jornalista, professor e especialista e Educação e Mídia