Um sugestivo aperto de mãos

Um sugestivo aperto de mãos

O 23º Congresso Internacional Socialista, realizado no balneário de Lagonisi, na Grécia, havia sido completamente ignorado pela mídia ocidental, até que surgiu a notícia de que o presidente do governo-fantoche iraquiano, Jalal Talabani, havia se encontrado com o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, selando um “histórico aperto de mãos”. Mas ao que tudo indica, a “histórica” reunião entre os dois aliados dos Estados Unidos não se fez pelos motivos divulgados no Ocidente.

O diário israelense Haaretz exaltou que “a história foi feita em Atenas”. Apreciando o pacto fimado na reunião do dia 1º de julho, o jornal apresentou uma foto de dois sorridentes, Ehud Barak e Jalal Talabani, unidos pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Nada mais sugestivo e comemorativo do que o tema do Congresso Internacional Socialista de 2008: “solidariedade global”. Mais de 600 participantes de 150 organizações políticas em 120 países atenderam aos três dias de reuniões, mas pouco além do encontro formal entre Israel e Iraque, dois países ainda considerados inimigos, foi comentado. O Iraque ainda não reconhece a existência de Israel e foi, durante muitos anos, um implacável inimigo do “lar nacional judaico” sob o governo de Saddam Hussein.

Os três indivíduos envolvidos fazem parte de estabelecimentos políticos financiados e mantidos pelos Estados Unidos. Abbas e Talabani controlam as estruturas de governo-fantoche, sem soberania ou poder político, instaladas pela administração Bush. Ambos são totalmente dependentes de roteiros elaborados pela Casa Branca. Israel, representado por Ehud Barak, cumpre o papel de protegido dos Estados Unidos, uma nação dependente do poderio militar financiado por Washington. Como sempre, o estado sionista está “incansavelmente promovendo a união entre os árabes”, contando que isso não implique na ocupação e expansão sobre as terras palestinas, ou envolva qualquer concessão por parte do “lar nacional judaico”.

O “histórico aperto de mãos” entre Jalal Talabani e Ehud Barak se provou, na realidade, muito mais um encontro de “missão cumprida” do que uma aproximação entre dois prováveis inimigos. Israel não é apenas indiretamente responsável pela invasão do Iraque, por ter fornecido aos Estados Unidos os relatórios fabricados sobre as famosas “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, e investido na campanha de mídia que se seguiu por todo o mundo. O “lar nacional judaico” também agiu diretamente na formação do atual governo-fantoche liderado por Talabani. Ainda em março de 2003, no início da invasão, o governo israelense afirmou no jornal Haaretz a intenção de “reabrir antigos oleodutos dos campos de petróleo curdos de Kirkuk, no Iraque, para o porto israelense de Haifa”. Joseph Paritzky, na época ministro da Infraestrutura de Israel, sugeriu que “após Saddam Hussein, o petróleo iraquiano poderá fluir para o estado judaico, de onde será vendido e consumido por seus aliados”. Portanto, o interesse de Israel no petróleo curdo e, conseqüentemente, nos curdos iraquianos, fazia parte dos planos no Iraque.

Jalal Talabani, um agente curdo da CIA que há décadas perseguia a criação de um protetorado petrolífero curdo subtraído à nação árabe, se tornou o primeiro presidente não-árabe de um país árabe. Líder do partido União Patriótica do Curdistão (UPC), Talabani é constantemente descrito como um homem que lutou fervorosamente contra Saddam Hussein – um grande engano. Após a Guerra do Golfo, em 1991, tempos depois dos curdos serem brutalmente reprimidos pelas forças de Saddam, Talabani liderou uma delegação curda iraquiana que, em junho de 1991, assinou um acordo de paz e amizade com Saddam Hussein. Tornou-se conhecida a foto de Jalal Talabani cumprimentando Saddam Hussein, em um dos palácios deste, com um beijo. Mas a traição não demorou. Após colaborar na coordenação de forças curdas em apoio aos estadunidenses na invasão do Iraque, Talabani expandiu sua relação com Israel em 2004, abrindo as portas da região semi-autônoma do Curdistão para forças israelenses, que de lá executavam operações secretas nas regiões curdas da Síria e do Irã, além de no norte do Iraque. A missão dos aliados pró-invasão havia sido cumprida.

Nesse caso, muito mais do que o presidente do Iraque, Jalal Talabani é o fundador e secretário-geral do maior partido político curdo. Sua luta pela soberania curda, mesmo que traindo os próprios curdos no passado, abrange um período de cinco décadas. Será então que o aperto de mãos na Grécia seria um reconhecimento público dessa “missão cumprida”? Sugerir que “a história foi feita em Atenas” é, no mínimo, infundado. O que deveria ser analisado é o motivo de os governos de Israel e Iraque decidirem, agora, abrir ao público os seus “gestos de boa vontade” iniciados em 2003.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº112 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_112.pdf

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