Por Arturo Hartmann,
de São Paulo
O Movimento Palestina para Tod@s realizou, no sábado (21), seu II Encontro das Sociedades e Entidades Palestinas do Brasil, um fórum onde se deram discussões de caminhos para que não apenas as comunidades palestinas possam agir em direção ao fim da violência da ocupação na Palestina, mas também movimentos sociais brasileiros.
Três temas nortearam as discussões do Encontro. O mais importante deles foi o debate de formas com que os movimentos em defesa da Palestina possam agir para barrar a ratificação do Tratado de Livre-Comércio entre Mercosul e Israel, assinado em 18 de dezembro de 2007, mas no momento sob análise da Casa Civil para uma posterior aprovação por parte do Legislativo Brasileiro. Uma moção de apoio a esse movimento que quer barrar a TLC já foi conseguida na Assembléia Legislativa de São Paulo, por meio do deputado estadual Raul Marcelo (Psol).
Na quinta-feira (19), a Comissão de Direitos Humanos aprovou a moção, mas com a condição que deveria ser colocada uma emenda, de que apenas se barraria a isenção de produtos que viessem dos assentamentos ilegais israelenses em território palestino ocupado na Cisjordânia. De qualquer forma, a moção será encaminhada às autoridades federais brasileiras.
Arlene Clemesha, historiadora e uma das coordenadoras da campanha, afirma que a emenda enxertada na moção pode ser um risco, pois já há uma experiência semelhante na União Européia. Os movimentos que lutaram por lá contra o TLC com Israel tiveram uma vitória com o mesmo limite, proibidos apenas os que tivessem origem em assentamentos ilegais. “Se formos pela linha dessa emenda, não avançamos nada. Na Europa, o processo se arrastou por 10 anos, e mesmo assim é uma situação difícil, pois Israel coloca um selo ‘Made in Israel’ e não há como saber a procedência do produto”. Para a historiadora, no entanto, o maior problema não é conseguir barganhar maiores ou menores limitações ao Tratado, mas fazer entender que não há como separar a economia de Israel daquela dos Territórios Ocupados.
Busca pela legitimidade
A não ratificação do Tratado seria um gesto político importante, na mesma medida que ratificá-lo também é. Israel age para se legitimar dentro da comunidade internacional e TLCs como esse são um importante passo para a diplomacia israelense. Ainda porque cresce um movimento chamado de BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), em que entidades do mundo inteiro incentivam um boicote econômico, político e cultural a Israel até que ele cumpra as resoluções da ONU que norteiam os caminhos para a solução da questão. Entre as ações, estariam a total retirada da presença israelense – incluídos aí seu exército e os assentamentos de colonos ilegais – da Cisjordânia e o fim da construção do Muro em cidades do território palestino. Arlene revela que entre as entidades que já realizam o boicote estão A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos e o Sindicato Nacional dos Correios do Canadá.
Um segundo ponto discutido no Encontro foi como recolocar a questão palestina na agenda dos Movimentos Sociais. Para essa discussão, estiveram presentes Júlio Turra, da CUT, Rui Kureda, da Agência de Desenvolvimento Humano Econômico e Ambiental, Miriam Nobre, da Marcha Mundial das Mulheres, João Bosco Coelho, do Movimento Brasil Afirmativo, e Nivaldo Santana, da Central dos Bancários.
Rui abriu os debates e contextualizou o problema de uma forma resumida: “Eu me lembro que nos anos 80, nos movimentos sociais, esse era um tema presente na agenda. Hoje a questão palestina está presente em círculos menores, não atinge um setor mais amplo dos movimentos”. Esse declínio em relação à presença da questão palestina, não apenas nos movimentos sociais, mas na sociedade como um todo, seria causado por dois motivos. Um mais geral, a desmobilização que ocorreu em todos os movimentos sociais, “a geração dos anos 90 que viveu todo um refluxo da luta social”.
O segundo está mais ligado à luta palestina, os Acordos de Oslo assinados por Yasser Arafat em 1993, pavimentando um outro caminho na lua palestina. Ali o líder palestino, ao trocar apertos de mão com Ythzak Rabin, desmobilizou toda uma estrutura de resistência que havia se montado desde a década de 60. O Estado palestino que deveria existir até 1999 está hoje muito distante da realidade concreta. Para Rui, através do contato entre os movimentos sociais e os movimentos palestinos, com debates e palestras, a questão pode voltar à agenda.
A última mesa do encontro trouxe a presença de alguns dos refugiados palestinos que chegaram ao Brasil em setembro de 2007, vindos de campos de refugiados da Jordânia, para onde foram encaminhados após serem expulsos do Iraque. Ali, dividiram sua experiência de vida no deserto durante os quatro anos em que ficaram em meio a arames farpados. (Foto: Aline Baker)