Mais um golpe de mídia contra o Irã?

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) publicou em sigilo para a ONU o seu novo relatório sobre o programa nuclear do Irã. Os Estados Unidos foram rápidos em acusar os iranianos, por intermédio da Secretária de Estado Condoleezza Rice, afirmando que “os iranianos têm muito a explicar”. Felizmente para os estadunidenses, como o relatório não foi revelado publicamente, abriu-se mais uma janela para que palavras sejam trocadas como convir, e a mídia ocidental cumpriu seu papel em atemorizar todos sobre o “perigo que representa o Irã”. Se o relatório finalmente tornar-se público, será tarde demais para apagar a falsa retórica construída.

A mesma estratégia foi utilizada para viabilizar uma invasão ao Afeganistão, depois ao Iraque, e agora ameaça o Irã. Meses antes, George W. Bush acusou os iranianos de “matar estadunidenses no Iraque”, ao supri-los com “armas de combate sofisticadas”. A missão do general Petraeus, líder da ocupação no país e herói da mídia ocidental, foi encontrar e forjar alguma prova dessa acusação. Em maio desse ano, um “esconderijo de armas sofisticadas” foi encontrado por Petraeus. A mídia comemorou, e a ligação do Irã com a insurgência xiita parecia legitimar-se, mas naufragou quando especialistas estadunidenses não conseguiram encontrar provas que ligassem as armas ao Irã. Dessa forma, a história sumiu da mídia, mas as dezenas de manchetes que acusavam o governo iraniano é que marcam as pessoas – o efeito da propaganda.

O que restou então para assustar o povo ocidental é a questão do desenvolvimento nuclear iraniano, e o relatório sigiloso da AIEA foi revelado na hora certa. Antes de qualquer coisa, deve ser esclarecido que as investigações da AIEA não tratam de assuntos atuais, no caso a produção de armas sob o governo de Mahmoud Ahmadinejad, mas sim do histórico iraniano com a tecnologia nuclear desde a disseminação da técnica na década de 1980, sob coordenação do doutor A.Q. Khan, que desenvolveu a capacidade nuclear do Paquistão. De acordo com o último relatório público da AIEA, “não há evidências de um programa de armas nucleares não-declarado em lugar algum” no Irã. Os Estados Unidos e seus dois principais aliados, o Reino Unido e Israel, ignoraram o relatório e insistiram na retórica de acusações. Mas em pouco tempo ficou claro que eles perceberam que contrariar os especialistas da AIEA não os ajudava, uma vez que poderia destruir qualquer credibilidade das investigações no futuro. Isso aconteceu com o Iraque, em que estava provado pela AIEA que não havia as famosas “armas de destruição em massa”, mas não poupou Saddam Hussein de uma devastadora invasão baseada em falácias. Mais uma vez, as mentiras caíram, mas as propagandas venceram.

Os Estados Unidos queriam o petróleo iraquiano, e querem o petróleo iraniano. Saddam Hussein falou a verdade, abriu seu país para a AIEA, e foi confirmado que ele não tinha “armas de destruição em massa”. Ele pagou o preço por ter aceitado o jogo dos Estados Unidos, e ter acreditado que estaria salvo ao falar a verdade e agir de acordo com a Lei Internacional. Mas a Lei não vale nada para a Casa Branca, e a questão verdadeira sempre foi o petróleo. Nesse exato momento, advogados e diplomatas estadunidenses lutam no parlamento iraquiano para aprovar uma lei que lhes garante o controle do petróleo iraquiano, o estabelecimento de 13 bases permanentes nos quatro cantos do país e imunidade a cidadãos estadunidenses das leis iraquianas. Os iranianos já entenderam isso, e agora a comunidade internacional precisa despertar – ter ou não ter armas nucleares não é mais a questão.

O desenvolvimento de tecnologias nucleares é legal perante a Lei Internacional para os países que assinarem o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Considerando isso, o Irã tem o direito de enriquecer urânio, já que a República Islâmica assinou o tratado ainda em 1968. Mas isso não lhes garante que a “liberdade e democracia” do ocidente não virão. O governo iraniano de Mossadeq seguia o modelo democrático ocidental, mas decidiu nacionalizar o petróleo iraniano. Como conseqüência, os Estados Unidos e o Reino Unido lhe derrubaram, e instalaram o governo-fantoche do Shah, operando ao lado de polícias secretas ocidentais. Os iranianos sabem disso, e estão preparados. Pelo menos por enquanto, a verdade venceu.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº107 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_107.pdf

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