Terrorismo em nome da “segurança nacional”

Terrorismo em nome da “segurança nacional”

Em 1976, o presidente estadunidense Gerald Ford emitiu um Decreto Executivo após revelações de que a CIA havia comandado diversas tentativas de assassinato contra Fidel Castro: “Nenhum funcionário do governo dos Estados Unidos deverá envolver-se em, ou no exercício de conspirar com assassinatos políticos”. Ironicamente, todos os líderes estadunidenses desde então conseguiram burlar essa lei, aos moldes de seus aliados em Israel, em nome da “segurança nacional”.

A Casa Branca e a CIA usam a filosofia de que um “achado de inteligência” foge dessa regra, uma vez que, para essas instituições, a proibição de assassinatos selecionados não se aplica em “tempos de guerra”. Mas difícil mesmo é encontrar um período da história em que os Estados Unidos não estiveram envolvidos em guerras. Segundo eles, a proibição “não nos impedirá de tomar as medidas necessárias contra os terroristas”, e de “agir em auto-defesa”. Portanto, basta a CIA fabricar um “achado”, rotular esse “achado” de “terrorista” e reivindicar uma missão de assassinato como um ato de “auto-defesa”, que o decreto do presidente Ford deixa de existir. Foi esse o padrão usado nos bombardeios do Afeganistão, Paquistão e Somália, para citar os mais recentes, em que centenas de civis inocentes foram mortos.

Na administração Bush, os Estados Unidos e Israel se uniram em uma campanha para estabelecer um quadro legal para encaixar as operações de assassinatos políticos selecionados. Israel, como não é novidade para ninguém, é especialista nesse assunto. A simpatia do “lar nacional judaico” com assassinatos existe mesmo antes da sua unilateral declaração de independência, em 1948. Atentados terroristas eram conduzidos pelos judeus contra os britânicos na Palestina, que controlavam a região na época, sob uma filosofia de que violência política e terrorismo eram “ferramentas legítimas” para remover obstáculos da causa sionista. Após expulsarem os britânicos, terrorismo e assassinatos eram traduzidos como campanhas de “auto-defesa” por Israel. Nada mudou até hoje, 60 anos depois, quando a resistência palestina à anexação ilegal de terras privadas, à limpeza étnica, aos seqüestros indiscriminados de pais de família e crianças e aos contínuos assassinatos são questões de “segurança nacional”.

De acordo com a organização israelense de direitos humanos B’Tselem, 231 palestinos foram vítimas de assassinatos selecionados, 385 passantes foram mortos como “dano colateral” dessas missões e “é impossível afirmar quantos foram mutilados e feridos por Israel desde a Segunda Intifada, em 2000”. Segundo a Anistia Internacional, “o uso de assassinatos de Estado por Israel contra suspeitos palestinos invalida as leis e colabora com o ciclo de violência na região”. Portanto, é ignorante, e no mínimo irônico, que essa prática de extermínios sistemáticos tenha sido defendida como “legal, eficaz e legítima” pelo procurador-geral de Israel, Ephraim Sneh. Certamente essa indiferença com a falta de precisão, confirmada pelo número maior de vítimas de “dano colateral” do que de “homens suspeitos”, e com a pura ineficácia das operações, como foi descrito pela Anistia Internacional, não é visto como um obstáculo para a contínua prática terrorista do Estado de Israel.

Dessa forma, é suspeita a postura do Departamento de Estado dos Estados Unidos durante a administração Bush, que se focou em descrever a sua “guerra contra o terrorismo” como “legal e necessária”. Segundo o vice-presidente Dick Cheney, quando questionado pela Fox News sobre a intensificação de campanhas de ataques de preempção por parte dos Estados Unidos e Israel, “se tivermos evidência de que alguém está planejando algum ataque contra nós, existe uma justificação em tentar se defender com um ataque de preempção”. Mas o que dizer então da invasão ao Iraque, em que foi comprovado que Saddam Hussein não representava ameaça alguma e não tinha as supostas “relações com a Al-Qaeda”? O estudo do conceituado jornal médico britânico The Lancet, a única análise científica realizada sobre o número de civis mortos no Iraque desde a invasão do país, publicado ainda em 2006, conta com “pelo menos 655 mil civis iraquianos mortos como resultado direto da invasão e ocupação do país”. Outro estudo com credibilidade, mais atualizado em termos de data, foi realizado pela organização britânica Opinion Research Business, que anunciou em setembro de 2007 que “cerca de 1,2 milhões de pessoas foram mortas como resultado da guerra”. O que justificaria todo esse “dano colateral”?

Nas recentes celebrações dos 60 anos de Israel, George W. Bush se ajoelhou perante os seus maiores financiadores em Israel e se declarou “orgulhoso de ser seu maior aliado e amigo”. “Vocês construíram uma poderosa democracia, que poderá sempre contar com os Estados Unidos”, disse ele ao Knesset. Portanto, as práticas criminosas dos “aliados incondicionais” indicam que os grandes terroristas do Ocidente continuarão a agir além de suas fronteiras, ignorando inclusive as suas próprias leis, em nome da “democracia”, “liberdade” e sua “segurança nacional”.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº106 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_106.pdf

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