Mulheres feministas anticapitalistas em luta por um mundo livre

O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta em todo o mundo, fruto da mobilização de operárias no início do século passado. Sua celebração foi proposta por Clara Zetkin, na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910, e a partir de então foi comemorado em diferentes datas. Em 1922, passou a ser celebrado no dia 8 de março, data em que as operárias russas deram início às mobilizações da Revolução de 1917.

Nós, mulheres feministas anticapitalistas, estamos permanentemente em luta, pois acreditamos que a força de nossa mobilização pode construir um mundo livre de exploração, opressão e discriminação. Estamos nas ruas levantando nossas bandeiras contra o capitalismo, o imperialismo, o neoliberalismo, o machismo, o racismo, a lesbofobia e todas as formas de fundamentalismo.

Estas ideologias fazem mal à sociedade em geral e tentam dirigir nossa vida, corpo e sexualidade, impondo a todas nós um modelo que oprime, desqualifica e violenta nosso cotidiano e nossas vidas. Queremos construir um mundo onde o fato de ser mulher, negra, indígena, lésbica, jovem, idosa ou com deficiência seja apenas um elemento da diversidade e corresponda ao direito à diferença, e não motivo para preconceito ou desigualdade.

Em luta por igualdade!

Lutamos por um mundo sem concentração de renda, de terras, sem pobreza. Combatemos a divisão sexual do trabalho, que desvaloriza nossas funções e ainda hoje é responsável pelo fato de as mulheres receberem menos do que os homens pelo mesmo trabalho desempenhado. É uma divisão sexista e racista, prejudicial ainda mais às negras. Ela diz que devemos ser responsáveis sozinhas pelo cuidado de nossos lares e familiares, o que nos obriga às duplas jornadas (em casa e no serviço) ou nos prende em casa, impossibilitando a busca por nossa autonomia econômica. A responsabilidade pelo trabalho doméstico e o cuidado da família deve ser compartilhada com o Estado e com os homens. Queremos equipamentos públicos como creches, lavanderias e restaurantes populares e políticas públicas que levem em consideração todas as nossas especificidades, incluindo as das mulheres com deficiência.

Queremos a valorização do salário mínimo e continuaremos lutando por uma previdência pública, universal, inclusiva e solidária. Não aceitaremos retrocessos! Defendemos uma reforma que amplie os direitos das mulheres, incluindo as donas de casa e as trabalhadoras em situação de trabalho informal, a manutenção da diferença de 5 anos entre homens e mulheres para aposentadoria e também o fim do fator previdenciário, que, na prática, reduz nossa aposentadoria.

Também defendemos a reforma agrária como política de distribuição de renda, que beneficiará a grande maioria das mulheres, em particular as negras e as camponesas, e uma reforma urbana que priorize o direito à moradia digna e à cidade.

Repudiamos a penalização a que são submetidas as mulheres encarceradas em todo o país. Exigimos uma política de educação não-sexista, não racista e não-homofóbica, que faça parte do enfrentamento às causas geradoras da atual situação de violência a que somos submetidas. Violência esta estimulada e perpetuada pela imagem da mulher propagandeada pela indústria cultural. Não nos reconhecemos no que é veiculado pelos grandes meios, sobretudo a TV, porque não somos e não queremos ser mulheres de plástico, subservientes e dominadas. Não aceitamos a mercantilização de nossa vida e de nossos corpos promovida por esta mídia, como se fôssemos produtos à venda. Por isso, defendemos o controle social e a democratização dos meios de comunicação, hoje concentrados nas mãos de poucos no Brasil, a serviço do capitalismo.

Em luta por autonomia!

A maternidade não deve ser uma imposição e sim uma decisão autônoma das mulheres. Temos o direito de escolher o momento em que seremos mães e se queremos ser mães! Defendemos a legalização do aborto e há tempos denunciamos as mortes e seqüelas em decorrência de interrupções de gravidez clandestinas e inseguras, principalmente em mulheres negras, pobres e jovens. Manter o aborto como um crime não impede sua prática; apenas coloca em risco nossa vida e saúde. A sociedade que queremos pressupõe um Estado democrático, laico e com justiça social, que garanta atendimento digno à saúde integral das mulheres, hoje ameaçada pelas iniciativas de privatização do SUS. Um Estado em que o direito ao amor e o exercício da sexualidade seja assegurado para todas as pessoas, sem discriminação por orientação sexual.

Para garantir nossa autonomia, também afirmamos o direito de viver sem violência doméstica e sexual. Exigimos políticas públicas de prevenção, o cumprimento da Lei Maria Penha, assim como mais equipamentos públicos como centros de referência à mulher, delegacias e casas abrigo. Queremos que o governador José Serra, que vem se negando a assinar o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, assuma este compromisso em nosso estado.

Questionamos a combinação machismo e capitalismo, que transforma tudo em mercadoria e coloca preço inclusive em nossos corpos. Repudiamos exploração da prostituição e não apoiamos sua regulamentação. Queremos trabalhos dignos e estamos em luta por nossa autonomia econômica. Da mesma forma, repudiamos o tráfico de mulheres, um tipo de negócio que se aproveita da miséria das mulheres nos países pobres.

Em luta por soberania popular!

Nós, mulheres, protagonizamos a resistência dos povos contra o livre-comércio, a ALCA e os projetos imperialistas dos Estados Unidos para América Latina. Nossa luta por soberania popular abriu possibilidades de transformação em nosso continente, e por isso afirmamos a importância dos processos de integração regional a partir dos povos.

Na luta contra o neoliberalismo, defendemos uma política econômica que negue o superávit fiscal e primário e o pagamento da dívida. Exigimos, sim, que ela seja voltada para o desenvolvimento do país e priorize o mercado interno. Somos contra os processos de privatização em vigor, como o que vivenciamos no estado de São Paulo, onde 18 empresas irão a leilão. Pela reestatização imediata das empresas privatizadas e seu retorno às mãos do povo!

Dizemos não às transnacionais que controlam nossas vidas e impõem seus produtos modificados geneticamente. Os povos têm o direito de decidir sobre o uso de seus recursos naturais, sobre como e o que produzir para se alimentar. Afirmamos a soberania alimentar como alternativa ao atual modelo do agronegócio, que orienta a produção pra exportação, destruindo a agricultura familiar e a pequena agricultura. Dizemos não à farsa do agrocombustível, que ameaça uma vez mais o consumo interno de alimentos e as pequenas agricultoras. Sabemos que não basta mudar o combustível de nossos carros se não alterarmos o modelo de sociedade consumista colocado para nós.

Repudiamos as guerras imperialistas em todo o mundo. Em situações de guerra ou conflito, as mulheres são submetidas a várias formas de violência, principalmente a sexual e o feminicídio. Solidarizamo-nos com todas elas, sobretudo com as mulheres do Haiti, vítimas da violência sexual por parte dos soldados que hoje ocupam seus territórios. Por isso, exigimos a retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti.

Estamos mobilizadas e em luta permanente por igualdade, autonomia e soberania popular! Queremos mudar o mundo para mudar a vida das mulheres! Façam parte desta luta!

Como anda a vida das mulheres

– A cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil e em mais de 50% dos casos o agressor é o marido ou companheiro.
– Estima-se que 1 milhão de mulheres por ano façam aborto no Brasil. 250 mil mulheres dão entrada nos hospitais com hemorragias ou infecções decorrentes de abortos inseguros.

– As mulheres com carteira assinada ganham em média 28,4% a menos que os homens, no Brasil.

– O trabalho doméstico ainda é a principal ocupação da mulher brasileira, representando 17% da força de trabalho feminina no país. Desse contingente, 55% são mulheres negras, 60% não completaram o ensino fundamental e só 25% têm carteira assinada.

– Na questão de renda, cerca de 31% das famílias chefiadas por mulheres viviam, em 2006, com rendimento mensal de até meio salário mínimo per capita. Nas famílias que têm o homem como pessoa de referência, 26,8% viviam com o mesmo rendimento em todo o país.


Fontes: “Violência contra a Mulher”, pesquisa Fundação Perseu Abramo, 2001; SUS; “Uma análise das condições de vida da população brasileira” (1996/2006), IBGE, PNAD, 2006.

Marcha Mundial das Mulheres, SOF-Sempreviva Organização Feminista, Centro de Informação à Mulher, Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, CIM-Guarulhos, Confederação de Mulheres do Brasil, CMP – Central dos Movimentos Populares, Coletivo Alumia Gênero e Cidadania, Coletivo Dandara, Coletivo de Mulheres Ana Montenegro, Coletivo de Mulheres Apeoesp Tatuapé, Coletivo de Mulheres do PCB, FACESP, Rede de Economia e Feminismo, Fala Negão, Fala Preta, Coletivo de Mulheres PT Campo Limpo, Coletivo Nac. de Mulheres com Deficiência, Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Coordenação Nac. GLBTT-PT, DCE- USP, DCE-Unicamp, FMP, Fórum Centro Vivo, Centro Maria Mariá, Fórum da Trabalhadora Desempregada, Fórum Estadual das Mulheres Negras, Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência – SP, Frente de Luta por Moradia, Fuzarca Feminista, Gemel, Coletivo Jovens Negras-PT, Grupo de Mulheres com Deficiência – CMPDSP, Sociedade Feminista de Mulheres de Ketô, União Nacional de Moradia Popular, Fórum de Mulheres do M’Boi Mirim, Intervozes, Sindicato dos Metroviários, SINPSI, Jornadas pelo Direito ao Aborto, Jovens Feministas de São Paulo, Liga Brasileira de Lésbicas SP, Movimento de Moradia do Centro, MST – Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras, APEOESP, Articulação Mulher e Mídia, Associação Frida Kahlo, Secretaria de Mulheres do PCdoB, Secretaria de Mulheres do PCB, Católicas pelo Direito de Decidir, Cedehp, C.M.S.P, União dos Movimentos de Moradia-SP, UNE, UNEGRO, Casas Cidinha Kopcak, Lilith, Sofia, Helenira e Casa Viviane dos Santos,MSTC, Mulheres de: Guarulhos, Várzea Paulista, Ferraz de Vasconcelos, São José dos Campos, Taubaté, Taboão da Serra, Campinas e Diadema, Santo André, São Bernardo, Centro Acadêmico de Serviço Social -PUC-SP, Intersindical, Mulheres Negras de Taipas, NPDM, Comissão da Mulher da Comunidade de Oyá e Ogun, Comunas Urbanas, Conselho Municipal de Mulheres de Tatuí, CONEN, Consulta Popular, Observatório da Mulher, Pastoral da Mulher Marginalizada, Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora-CUT, Secretaria de Mulheres do CTB, Secretaria Estadual de Mulheres do PSOL, Secretaria Estadual e Municipal de Mulheres do PT, SERMULHER, Setorial de Pessoas com Deficiência – PT, UBES, UPES, UEE-SP, UJS, União Brasileira de Mulheres, União de Mulheres-SP.

2 thoughts on “Mulheres feministas anticapitalistas em luta por um mundo livre

  1. Mulheres feministas anticapitalistas em luta por um mundo livre
    Concordo com quase tudo que li a respeito de suas reivindicações,porém acho contraditório vcs lutarem pela legalização do aborto e não apoiarem a regulamentação da prostituição…afinal que liberdade é essa que caça uns e outros não????Concordo que não legalizar o aborto não impede sua prática e isso tembém acontece em relação a prostituição…levantei a questão só para vcs pensarem a respeito,pois sou a favor da liberdade em todas as suas instâncias,e penso que se alguma mulher,ou homem,quiser vender seus corpos,mesmo sabendo que não é uma coisa que seja admirável e aprovado pela maioria,assim como o aborto,eles tem o direito,sim, de faze-lo… é um direito de cada um agir como quer.E nem venham com o dicurso que a prostituição existe por falta de emprego e opção,hoje sabemos que grande parte o faz por escolha,por querer grana fácil,ou até mesmo por prazer…enfim,tá aí,pensem!

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