SONHO VIRTUAL E FÍSICO

Sentimento, memória de uma entidade imaginária. Após quarenta anos, o Clube da Esquina continua sendo um pedaço de meio-fio no bairro Santa Tereza, Belo Horizonte. Já o Museu Clube da Esquina ocupa, de fato, um espaço on-line, com uma fonte inesgotável de memórias. O próximo passo do sonho, sonhado há alguns anos por Márcio Borges, é sair do espaço cibernético. Isso mesmo: o Museu do Clube da Esquina vai ser construído no antigo Cine Santa Tereza.

A trajetória do Museu Clube da Esquina começou com um sonho do músico Márcio Borges, onde ele reuniria informações, depoimentos, discografia, memórias, causos e diversas pessoas que construíram o movimento com músicas, em plena ditadura militar. No ano de 2003 ele articulou, entre amigos, a idéia de juntar toda essa informação no mundo virtual e após um longo processo burocrático conseguiu a aprovação do projeto na lei Rouanet, do Ministério da Cultura. Para administrar as ações do Museu, o coletivo que assumiu o sonho de Márcio, fundou a Associação Amigos do Clube da Esquina (AACE). A secretária-executiva da AACE, Cláudia Brandão, é quem está a frente da negociação com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), para construção do Museu em Santa Tereza. O diretor da AACE, Márcio Borges, declarou: “eu sou apenas um mentor, não trabalho a parte burocrática, mas, posso adiantar que a Prefeitura ofereceu o espaço do Cine Santa Tereza, na Praça Duque de Caxias e tem tudo a ver”.

O prédio grande, com estilo galpão, do Cine Santê está tombado pela PBH. Essa conquista foi de um outro Borges, o irmão mais velho de Márcio, Marilton Borges, que no ano de 2002 foi presidente da Associação Comunitária do Santa Tereza. A diferença é que no ano de 2002 os planos para o local eram de abrigar o Centro Cultural Leste. Cheio de saudosismo e orgulho dos trabalhos realizados para o bairro, Marilton disse “conseguir pro nosso bairro o tombamento do cinema, de transforma-lo numa área de diretrizes especiais, é coisa que vem da infância.”

SANTA TEREZA

O bairro tem uma ligação direta com o Clube da Esquina. Na década de 60, Lô Borges e os meninos da rua sentavam no meio-fio entre as ruas Paraisópolis e Divinópolis e já chamavam o lugar de clube. O Alto dos Piolhos, lugar com a maior concentração de bares no bairro, ganhou esse nome porque era freqüentado por um monte de jovens cabeludos. Na época, deixar o cabelo grande era uma maneira de contestar a Ditadura. Márcio diz que “era como um estandarte visual que a pessoa carregava para falar que não estava nem aí para Ditadura”. O nome “Piolho” era uma extensão simbólica, um modo pejorativo que os jovens se davam. A juventude ali reunida era inconformada com a situação do país, e é no inconformismo que o Clube da Esquina e o Alto dos Piolhos se uniam. “Era uma reunião de inconformados, só que uns jogando sinuca e bebendo e os outros fazendo música”, declarou Marilton, que hoje é dono de um bar no entroncamento das ruas, onde nasceu o clube.

MULHERES DO CLUBE

A participação feminina na história do Clube da Esquina começa por dona Maricota, a Maria Fragoso Borges, casada com Salomão Borges, com quem teve 11 filhos. Gerou seis músicos homens e mais cinco mulheres dentre as quais artistas e instrumentistas.

Márcio Borges declarou que “se o Clube da Esquina começa em algum lugar, este lugar é numa mulher. O ventre que nos gerou foi o de Elis Regina.”
Outras mulheres importantes que participaram do movimento até mesmo antes de cantar, foram: Beth Carvalho, Leise Brant, Fafá de Belém, Nana Caymmi, Simone. Essas pessoas entraram no estúdio para gravar, pela primeira vez, com o pessoal do Clube da Esquina. Fora as esposas e musas de Márcio, Fernando Brant, Luiz Alves, Toninho Horta e outros. Atualmente as mulheres que caminham junto com o Clube da Esquina são Marina Machado e Maria Rita.

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