Juventude negra capixaba lança Fejunes

A Juventude Negra do Espírito Santo realizou nos dias 29 e 30 de setembro o seu II Encontro Estadual, que aconteceu na cidade de Colatina, região norte do estado. O Encontro foi o principal encaminhamento das discussões pós ENJUNE no estado.

Na abertura do II ENJUNES rolou uma apresentação cultural idealizada e executada por organizadores do Encontro e também uma mesa com representantes da Coordenação e das instituições que apoiaram a iniciativa.

Na seqüência, aconteceram duas Mesas Redondas, Novas Perspectivas na Militância Étnico/racial e Desafios na Organização da Juventude Negra, onde a galera conseguiu debater a luz das questões expostas e apontar alguns encaminhamentos.

Na parte da tarde, os participantes se dividiram em Grupos de Discussão e refletiram sobre as proposta de Organização e Funcionamento do Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo – FEJUNES.

Os trabalhos dos Grupos de Discussão foram subsidiados por um texto-base, produzido pela organização do Encontro, que recebeu importantes alterações, sendo encaminhado para deliberação na Plenária Final.

Dando prosseguimento na Programação de sábado, aconteceu na Noite Cultural um Baile Black, que contou com a presença de todos/as participantes num clima bem bacana de confraternização e bate papo.

No domingo, foi realizado à Plenária Final com apresentação, discussão e deliberação das propostas referentes ao Funcionamento e Organização do FEJUNES, bem como ao Plano de Luta e Ação que o Fórum executará. A Plenária também aprovou o Manifesto de Lançamento do FEJUNES e elegeu a sua Coordenação que é composta por 18 membros, sendo contemplado os municípios presentes.

Vale também registrar que às mulheres ocupam mais de 60% da Coordenação eleita, fato este que é fruto da luta e atuação que elas vêem demonstrando neste processo de organização da juventude negra em nosso estado.

Esperamos que os demais estados também estejam empenhados nesta construção e em breve enviaremos o Relatório do Encontro com o Documento de Organização e Funcionamento que foi aprovado, assim como o Plano de Luta e Ação.

Este Encontro certamente foi o início de um novo período para juventude negra capixaba. O FEJUNES desempenhará um importante papel na organização deste segmento no enfrentamento ao racismo e ao processo de dominação da elite branca em nosso país.

MANIFESTO

A resistência negra em território brasileiro se deu desde a chegada dos primeiros irmãos e irmãs que pisaram neste solo. O símbolo mais relevante com certeza é o Quilombo de Palmares, a primeira República Negra das Américas, onde o seu grande líder e guerreiro Zumbi dos Palmares se eternizou como referência e herói do povo negro brasileiro. Aprendemos uma lição com Zumbi: é possível e necessário resistir a todo o momento às opressões.

A luta negra no Brasil não cessou após o ataque à Palmares, pelo contrario. Poderíamos citar vários exemplos de luta e resistência travadas pelo nosso povo após essa experiência, como: à Revolta dos Malês, à Revolta de Queimados, o surgimento da Frente Negra Brasileira, do Teatro Experimental do Negro e do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial.

Atualmente, motivos não faltam para o acirramento das lutas e da resistência. A população negra amarga os piores índices sociais e econômicos e à juventude negra, principalmente, é exterminada cotidianamente seja pelos aparatos repressores seja pela ausência de políticas públicas especificas.
No estado do Espírito Santo o quadro é ainda pior. As políticas sociais são colocadas em segundo ou terceiro plano e enquanto isso sentimos na pele os reflexos da exclusão racial, que inclusive são comprovadas através de pesquisas.
Não nos são garantidos os direitos previstos nos diplomas legais e nem tão pouco às condições mínimas de sobrevivência digna. Nossos sonhos são deturpados a todo o momento e sofremos com as várias formas de discriminação racial.

Enquanto isso, o Estado brasileiro vira a cara para nossas demandas, implementa políticas universalistas e nos empurram migalhas. Não queremos ser tratados desta forma. Exigimos reparações!

Por isso estamos aqui. A organização da Juventude Negra é a única saída para superar todos esses problemas. É preciso unir aqueles que acreditam na transformação desta sociedade e contrapor os sistemas de dominação e opressão que nos são impostos por aqueles que detêm o poder.

Dessa forma, o Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo surge numa perspectiva autônoma, afrocentrada, quilombola, militante, protagonista, democrática, combativa e de resistência, na luta anti-racista, contra qualquer forma de opressão e pela Emancipação do povo negro.

Afirmamos a nossa disposição de lutar e fortalecer a organização do povo negro em nosso estado e no Brasil, para que possamos avançar na luta anti-racista e buscar as reparações devidas.

A Juventude Negra do Espírito Santo a partir de hoje mostra para toda sociedade que não está de mãos amarradas, mas sim de armas em punho e pronta para batalha!

Axé

Colatina/ES, 30 de setembro de 2007.


Fotos de Enjune realizado em agosto:

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