Enganados pelos números do Iraque

Enganados pelos números do Iraque

A mídia ocidental se apressou a comemorar o número relativamente menor de baixas estadunidenses no Iraque durante o mês de julho. Segundo fontes ocidentais, foram apenas 80 soldados da ocupação mortos, contra 104 no mês de abril, 126 em maio e 101 em junho. Ao que tudo indica, porém, o número mais baixo de perdas se deve a uma mudança de planos dos estadunidenses após o fracasso com o envio de mais soldados a Bagdá. As forças de ocupação teriam recuado muitas tropas para dentro de suas bases, e evitado o confronto com a Resistência Iraquiana em diversos locais pelo país pela primeira vez desde o início da guerra, em 2003.

Em uma entrevista ao jornalista investigativo estadunidense Robert Parry, oficiais militares estadunidenses no Iraque confirmaram que, desde o início de julho, as operações militares no país “não se distanciaram muito das nossas bases”. O recente “novo plano de segurança” para Bagdá, apresentado por George W. Bush, descreve que o motivo do envio de mais 20 mil soldados para o Iraque tinha como objetivo tirar soldados de suas seguras bases ao redor de Bagdá e infiltrarem mais adentro nas cidades iraquianas, a fim de combater a Resistência em suas próprias bases. Obviamente, o plano se mostrou um fracasso, refletido no alto número de baixas entre abril e junho desse ano.

Segundo as fontes estadunidenses, o plano de infiltrar soldados nas cidades iraquianas foi “um erro”. Os soldados simplesmente se tornaram expostos a mais ataques, vítimas fáceis em meio a comunidades contra a ocupação, em que não se sabe quem é o inimigo. As posições assumidas dentro das cidades também foram danosas à logística militar estadunidense. Durante o período, as bombas improvisadas em ruas e as emboscadas da Resistência se tornaram mais comuns, impossibilitando a entrega de suprimentos às forças infiltradas.

O analista estadunidense Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, afirmou que “os Estados Unidos têm apenas opções incertas ou de alto risco no Iraque”. “Até então, o governo iraquiano falhou em conseguir qualquer desenvolvimento no país, o que nos mantêm sem novas opções”, explicou ele. Ironicamente, o fracassado governo iraquiano foi colocado no poder pelos próprios estadunidenses, em uma decisão nada democrática, ao contrário do que fora prometido aos civis do país pré-invasão. O governo completamente xiita representa o inverso do que Saddam Hussein era acusado, explorando as demais minorias religiosas do país. “O governo não mostra qualquer inclinação em ceder direitos iguais aos sunitas”, afirma Cordesman. No caso de Saddam Hussein, os sunitas eram privilegiados em relação aos xiitas.

Enquanto isso, o jornal médico britânico The Lancet realizou um estudo que alerta que “os números de 655 mil civis iraquianos mortos pela ocupação desde 2003 é subestimado”. Pouco se sabe sobre o futuro do Iraque, mas uma coisa é certa: George W. Bush pretende continuar com a ocupação no país, o que a tornará ainda mais cruel e sem retorno. Os “apenas” 80 soldados mortos em julho refletem simplesmente mais uma mudança de estratégia dos Estados Unidos no Iraque, que carrega o peso da derrota das forças de ocupação no país. Infelizmente, os civis iraquianos não viram a “liberdade e democracia” prometidas por Bush em 2003.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo –
http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº71 –
http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_71.pdf

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