O I Workshop sobre Línguas Indígenas Ameaçadas- Estratégias de Preservação e de Revitalização será realizado em 4 e 5 de outubro próximo, no Auditório Dois Candangos da Universidade de Brasília (UnB), promovido pelo Laboratório de Línguas Indígenas do Instituto de Letras da UnB
Várias das línguas indígenas brasileiras encontram-se ameaçadas de desaparecer nas próximas décadas e, com elas, a maior parte do complexo cultural que caracteriza o respectivo povo.
Hoje, para algumas comunidades indígenas existem apenas lembradores de frases e de vocabulário das línguas nativas originais.
Durante as últimas décadas, desapareceram várias línguas indígenas brasileiras, como o Umutína (família Boróro, tronco Macro-Jê, no Mato Grosso), o Baré (família Aruák, no nordeste do Amazonas), e o Máku (isolado lingüístico, em Roraima).
Existe, atualmente, uma vintena de línguas, cujos falantes não alcançam o total de vinte pessoas, como são os casos das línguas Akuntsú, Kanoê e Sabanê em Rondônia, Avá-Canoeiro em Goiás e em Tocantins, Krenák em Minas-Gerais, Guató no Mato-Grosso do Sul, Xetá no Paraná.
Cinqüenta línguas indígenas brasileiras são faladas por menos de uma centena de pessoas, de forma que todas elas podem entrar em processo de extinção a qualquer momento.
Metas e objetivos
Frente a este triste quadro e aproveitando este momento em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/MinC) caminha para o reconhecimento das línguas como patrimônio imaterial do Brasil, propomos um workshop que promova o debate sobre como enfrentar e superar as situações de perda lingüística que hoje ameaçam os povos indígenas no Brasil.
Esta será a primeira iniciativa no Brasil a chamar a atenção para a necessidade imediata de reunir esforços dos pesquisadores brasileiros e estrangeiros, dos representantes de instituições governamentais e não-governamentais e das lideranças indígenas no sentido de pensar estratégias e instrumentos legais em prol da saúde das línguas nativas sobreviventes no Brasil.
Para esse Encontro, estão convidados Leanne Hinton, doutora da Universidade da Califórnia, Berkeley, e Willem Adelaar, doutor da Universidade de Leiden, Países Baixos.
Hinton é hoje uma das profissionais mais experientes em processos de reversão de morte de línguas indígenas nos EUA.
Lyle Campbell também foi convidado, mas não poderá participar, embora contemos com a sua contribuição escrita para as atas do encontro.
Adelaar foi o primeiro lingüista europeu a alertar para o problema do desaparecimento de línguas indígenas da América do Sul.
Socorro Pimentel, da Universidade Federal de Goiás, e representantes Karajá terão participação fundamental no encontro, compartilhando os resultados da experiência pioneira e expressiva da vontade dos índios de fortalecer o uso de sua língua e cultura nativa.
Terezinha Maher, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, contribuirá com a sua experiência no âmbito de deslocamentos lingüísticos de línguas indígenas face ao Português.
De importância fundamental no evento, serão as duas mesas especiais:
1) Sobre o projeto de revitalização da língua Karajá, coordenado por Socorro Pimentel, e
2) sobre as políticas governamentais voltadas para o fortalecimento de línguas e culturas dos Povos Indígenas do Brasil, formada por representantes da Unesco, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), do Ministério da Educação, responsável pela Educação Escolar Indígena no país, da Funai e do Ibama.
Público alvo:
Pesquisadores de Universidades e de outras instituições de ensino e ou pesquisa; representantes de instituições governamentais e da sociedade civil responsáveis pela organização ou implementação de projetos educacionais para os povos indígenas e/ou pela formação de professores indígenas; líderes de comunidades indígenas; estudantes de graduação e de pós-graduação; professores índios e não índios de escolas indígenas; professores de educação e de lingüística de universidades locais e nacionais; e outros interessados.
Resultados esperados
O workshop ensejará o início de uma discussão crítica sobre a preservação das línguas nativas e a importância delas nos processos de aprendizagem e de ensino para aquisição de novos conhecimentos sem ruptura com os usos e costumes próprios de cada etnia.
Dos trabalhos e das discussões desenvolvidas durante o Encontro, as principais contribuições serão reunidas em um livro que contemplará o estado da arte da saúde das línguas indígenas do Brasil e apontará para caminhos que poderão impedir a morte dessas línguas.
Durante o workshop, será lançada a tradução para o Português do livro de Leanne Hinton “How to keep your language alive” (Como manter sua língua viva), publicado com o apoio do MEC, em edição destinada à distribuição nas comunidades indígenas brasileiras, onde a língua Portuguesa é também falada.
Apoio:
– Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal
– Fundação Nacional do Índio
– Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e sua Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena
– Instituto de Letras da Universidade de Brasília
– Curso de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade de Brasília
Coordenação dos eventos:
Ana Suelly Arruda Câmara Cabral
Aryon Dall’Igna Rodrigues
Beatriz Carretta Corrêa da Silva
Equipe executora:
Carolina Coelho Aragon
Eduardo Alves Vasconcelos
Edilson Martins Melgueiro Baníwa
Edineide do Santos Silva
Eliete de Jesus Bararuá Solano
Juliana Pereira dos Santos
Juliana Ferreira Alves
Laísa Fernandes Tossin
Lidiane Szerwinsk Camargos
Sanderson Castro Soares de Oliveira
Comitê Assessor:
Aldir Santos de Paula (Ufal)
Carmen Junqueira (PUC-SP)
Claudio Romero (Funai)
Fábio Bonfin Duarte (UFMG)
Lucy Seki (IEL-Unicamp)
Marília Facó Soares (Museu Nacional-UFRJ)
Márcia Damaso Vieira (Museu Nacional-UFRJ)
Roque de Barros Laraia (UnB)
Terezinha de Jesus Machado Maher (IEL-Unicamp)
Wilmar da Rocha D’Angelis (IEL-Unicamp/LALI-UnB)