As armas perdidas do Iraque

As armas perdidas do Iraque

Na última semana, o Departamento de Contabilidade do Governo (GAO, na sigla em inglês), um órgão independente do governo estadunidense, um braço investigativo do Congresso, divulgou um relatório que afirma que o Pentágono desconhece a localização de “cerca de 190 mil fuzis AK-47, pistolas e outros equipamentos entregues às forças de segurança iraquianas entre 2004 e 2005”.

O documento é particularmente embaraçoso para o Pentágono. Primeiro, porque o número de armas perdidas é chocante – as estimativas antes da divulgação do relatório giravam em torno de somente 14 mil armas. Segundo, porque, de acordo com o próprio Pentágono, os planos estadunidenses de equipar as forças oficiais iraquianas é um dos “principais objetivos” das forças de invasão no Iraque. Desde 2003, os Estados Unidos gastaram 19,2 bilhões de dólares tentando desenvolver as forças de segurança iraquianas, incluindo pelo menos 2,8 bilhões para a compra de equipamentos. O recém-divulgado relatório reflete a precária organização das forças de ocupação no Iraque, e explica o motivo de que a cada vez que aumenta o número de soldados estadunidenses no país, a situação da segurança apenas regride, enquanto as baixas estadunidenses crescem.

Devido às recentes estatísticas de armas perdidas, que apontam números muito mais altos do que era esperado, o Exército dos Estados Unidos não acredita na capacidade de explicar o destino das armas. Conforme afirmou a analista-sênior do Centro de Informação de Defesa dos Estados Unidos, Rachel Stohl, “eles (oficiais militares) não fazem a mínima idéia de onde elas (as armas) estão”. Enquanto o presidente George W. Bush queixa-se freqüentemente de que o Irã e a Síria estariam suprindo os insurgentes no Iraque, o novo relatório aponta que os próprios estadunidenses, inadvertidamente, através do seu despreparo, estariam fazendo o mesmo.

Apesar de o relatório do GAO focar principalmente os erros do Pentágono em distribuir o armamento aos iraquianos, a preocupação de que as armas perdidas tenham chegado a inimigos estadunidenses no Iraque, como a Resistência Iraquiana e a Al-Qaeda, é alarmante. De fato, são inúmeros os casos de forças do exército e da polícia iraquianas que “traíram” os estadunidenses e se uniram à Resistência Iraquiana. O primeiro caso confirmado aconteceu ainda em setembro de 2004, quando uma brigada militar criada e armada pelos Estados Unidos em Al-Fallujah rapidamente se dissolveu completamente e se uniu à Resistência. Desde então, pelo menos 8 chefes de polícia de diversas cidades iraquianas foram detidos pelas forças de ocupação por “colaborar com os insurgentes”. Os casos mais comuns, porém, são de policiais iraquianos que fingem cumprir seu papel pró-invasão, mas que garantem a segurança da Resistência por estar por dentro das ações que se seguirão. Recentes relatórios das forças oficiais iraquianas apontam que, entre março e junho de 2007, pelo menos 3 prisões iraquianas tiveram “fugas em massa” facilitadas por policiais iraquianos, e que pelo menos 326 presos que escaparam pertenceriam à Resistência Iraquiana.

Os casos de “traição” das forças de ocupação acontecem também no governo-fantoche do xiita Nuri al-Maliki, colocado no poder pelos estadunidenses. Por enquanto, 18 ministros suspenderam a participação no frágil governo de Maliki somente esse ano. A justificativa dos ministros é o fracasso de Maliki em acatar os pedidos de reforma política – ou seja, o medo de que os estadunidenses teriam tirado um ditador para colocar outro no poder. A situação do atual governo iraquiano é crítica, e de acordo com a Associação de Estudiosos Islâmicos do Iraque, o regime de Maliki não terá como sobreviver após as forças de ocupação deixarem o país.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº69 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_69.pdf

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