Qualquer um que tenha passado pelo Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Israel, o maior ponto de chegada internacional no país, reconhece que se trata de uma experiência única. Para todos os judeus, é uma experiência confortante – uma entrada rápida e acolhedora a uma nação criada e desenvolvida apenas para o povo judaico. Para o resto do mundo, principalmente ativistas procurando acesso às terras ilegalmente ocupadas na Palestina, a experiência é muito diferente.
A Resolução 194 da ONU, votada e aprovada em 1948, que garantiria a “desmilitarização e controle da ONU sobre a cidade sagrada de Jerusalém”, além da “proteção e acesso livre a todos os locais sagrados”, ainda é completamente ignorada por Israel. Ao chegar ao país, está claro que Jerusalém (cidade sagrada para o Islam, para o Cristianismo e para o Judaísmo) é uma posse única do “lar nacional judaico”. O ponto de entrada internacional, o aeroporto Ben Gurion, localizado na principal rodovia entre Jerusalém e Tel Aviv, funciona como uma peneira para cidadãos indesejados no país, o primeiro contato dos estrangeiros com a censura e a agressividade de Israel.
O jornal Oriente Médio Vivo passou pela discriminação racial de acesso a Israel na última semana. Após um vôo tranqüilo de Londres para Ben Gurion, ao deixar o ônibus de transporte entre o avião e o Terminal 3 do aeroporto, percebe-se chegar em um lugar, no mínimo, diferente. As forças de segurança de Israel utilizam o método de “perfilização” dos estrangeiros, ou seja, separar os passageiros “suspeitos” de acordo com sua aparência ou etnia – uma prática banida em todos os demais países, até nos Estados Unidos pós-11 de setembro. Separado dos judeus israelenses, e junto a muitos outros estrangeiros, o Oriente Médio Vivo foi encaminhado para uma sala especial para checagem de bagagens e interrogatório. “O que fará em Israel? Quanto tempo ficará aqui? Quem você conhece aqui? O que faz no seu país de origem?”, foram algumas das primeiras perguntas realizadas pelas forças israelenses, o que levou mais de 2 horas. A principal delas, porém, encerraria o interrogatório: “Existe algo que devemos saber?”. No mínimo, interessante. Apesar de respondidas as perguntas, não existe discussão com os oficiais. Eles não estão trabalhando ali para entender os estrangeiros, ou sequer para interrogá-los – a prioridade deles é garantir as condições de existência de Israel, ou seja, manter o “lar nacional judaico” para os judeus. Desse sonho, estrangeiros, principalmente árabes, não fazem parte.
Insatisfeitos com o primeiro interrogatório, os israelenses conduziram o Oriente Médio Vivo para uma outra sala de detenção, em que outros estrangeiros já aguardavam, ainda sem seus pertences. Por um período de 4 horas, foram realizados diversos mini-interrogatórios, em que as mesmas perguntas foram feitas dezenas de vezes. Nesse tempo, uma das “investigadas”, uma senhora negra sul-africana de pelo menos 60 anos de idade, em uma “visita espiritual cristã” ao país, foi recusada, apesar de seu marido, um senhor caucasiano de mesma nacionalidade, ter sido liberado. Nesse momento, estava claro que o Oriente Médio Vivo não entraria em Israel, e não chegaria a seu destino, Jerusalém, que abriga a Mesquita Sagrada de Al-Aqsa, terceiro local sagrado para o Islam (depois de Meca e Medina).
O perfil étnico do Oriente Médio Vivo não é bem-vindo em Israel, e não tem permissão de chegar em Jerusalém que, segundo a ONU há 59 anos, seria “a cidade sagrada de todas as nações”, sob controle da ONU, e de nenhum outro país. Para nós, foram apenas 7 horas no inferno de Ben Gurion. Para os palestinos, tal inferno se repete todos os dias, há quase 60 anos.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº66 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_66.pdf
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