A proposta, na época, foi considerara prematura e irreal, mais complexa do que manter milícias sunitas, xiitas e curdas longe uma das outras. Entretanto, a atual fragmentação do país em regiões dominadas por milícias, sem qualquer controle das forças de invasão, é uma triste realidade.
O plano para a divisão do Iraque em linhas étnicas e religiosas foi proposto em 2005 pelo senador estadunidense Joe Biden e pelo ex-secretário Leslie Gelb. A proposta, na época, foi considerara prematura e irreal, mais complexa do que manter milícias sunitas, xiitas e curdas longe uma das outras. Entretanto, a atual fragmentação do país em regiões dominadas por milícias, sem qualquer controle das forças de invasão, é uma triste realidade. As tensões sectárias se intensificam, o número de mortos – dos dois lados – não deixa de crescer e o “novo plano de segurança” de George W. Bush se provou mais um fracasso.
Um novo plano, baseado na proposta inicial de Biden e Gelb, foi anunciado recentemente por membros do governo estadunidense. A estratégia recebeu o nome de “partição suave”, e se refere ao relatório recém-publicado e intitulado “O Caso para a Partição Suave do Iraque”, por David Joseph e Michael O’Hanlon. A “divisão suave” significa a divisão do país em três estados semi-independentes (um sunita, um xiita e um curdo), sob a liderança de uma autoridade central. Desde os misteriosos primeiros atentados sectários no Iraque, que até hoje não se encontrou um grupo culpado, a Resistência Iraquiana alertava sobre o plano estadunidense para a divisão do país, sempre negado pelos líderes estadunidenses.
O relatório indica que esse governo central seria encarregado de, entre outras coisas, “administrar a distribuição justa dos lucros do comércio de petróleo”. Qual seria, porém, o sentido da palavra “justa” nesse caso? Certamente, é um termo muito vago para algo tão importante. Logicamente, o tal “governo central” seria colocado no poder pelos estadunidenses, assim como o atual regime iraquiano – que se mostrou um desastre. No momento, o atual governo pró-ocidental iraquiano não consegue sequer representar os seus próprios interesses, ao colaborar com a separação entre sunitas e xiitas – uma estratégia estadunidense para enfraquecer a oposição do povo à ocupação do país.
O novo plano se mostrou uma ingenuidade desde o princípio. Dividir tais estados significaria reposicionar cerca de 5 milhões de civis iraquianos, que hoje ainda vivem em comunidades mistas. De fato, tentar dividir cirurgicamente o Iraque após invadi-lo com total descaso e irresponsabilidade significaria simplesmente fazer com uma faca o que as armas nem sequer conseguem controlar. A atual violência no país nada tem a ver com religião – trata-se de desigualdade na administração de poder, da total falta de segurança e a competição por terras em um país invadido e sem leis. Simplificando: todo o conflito é uma conseqüência lógica de uma ocupação derrotada.
Os iraquianos temem o futuro. A invasão trouxe ao povo um novo país, com uma sociedade completamente desorientada e sem esperança – em troca desse “favor”, o Iraque ainda está sob ameaça de perder o controle do seu petróleo, a maior fonte de renda do país. É necessário compreender que iraquianos, sunitas e xiitas, lutam juntos pelo fim da ocupação ilegal do país. Uma reintegração de todos em seus lares originais, em suas comunidades mistas, tem que ser parte de qualquer plano de resolução para o conflito. Não há nada “suave” em dividir o país.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº65 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_65.pdf
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