De novo, a polícia

Foto: Jesus Carlos. Imagem Latina

Hoje, dia 05 de maio por volta das 16h, a polícia deu mais uma mostra de seu caráter reacionário e racista. Cerca de 150 jovens, trabalhadoras e trabalhadores negros estavam reunidos em São Bernardo, perto do Paço Municipal, se manifestando contra o genocídio da juventude negra, fruto da violência policial que todos os dias tira a vida, reprime e humilha jovens e trabalhadores negros e negras. O ato era parte do Encontro Nacional da Juventude Negra (ENJUNE) do ABC. Tudo corria normalmente quando a polícia apareceu reprimindo mais uma vez. Leia abaixo as declarações dos jovens e trabalhadores negros e negras que foram reprimidos.

“A gente foi para a rua para denunciar o genocídio da juventude negra. Segundo os números oficiais 70% dos jovens assassinados pela polícia são negros. Estávamos protestando contra a violência policial, mas também contra o desemprego. Daí a polícia veio e disse que estava “ofendida”, me puxou pelo braço e me bateu com o cacetete. Meu braço ficou dolorido. Quando ele ia me bater de novo, chegou o resto do pessoal e entrou na minha frente para me defender. Não me lembro do nome dos policiais, só vi um que chamava 2º Tenente Honorato. Eles não pensam duas vezes em avançar contra nós. Prenderam diversos companheiros, como a Mara do Hip – Hop. Nós denunciamos a violência policial porque tudo mundo sabe que ela reprime os negros. Saímos na rua para dizer que não aceitamos mais isso”.

Jaqueline – Organizadora do ENJUNE Interior e militante do movimento Hip-Hop de Sorocaba

“Sou uma das organizadoras do Encontro e uma das idéias que tiramos era fazer o ato contra o extermínio da juventude negra. Alguns cartazes falavam do caráter racista da polícia. Partimos da Av. Marechal e quando chegamos numa rua que estava meio deserta, uma de nossas irmãs foi agredida porque estava segurando os cartazes. Quando a gente saiu chegaram muitos policiais. Apareceram umas quatro ou cinco viaturas. Os policiais disseram que a gente tava fazendo “apologia”. Em nenhum momento conseguiram explicar o suposto crime que estaríamos cometendo. Eu vi três manifestantes sendo agredidos. Isso é uma ação que mostra para que serve a polícia: proteger a burguesia e seus bens. A maioria das pessoas que morre assassinada pela polícia são negros e pobres. Temos certeza de que isso é racismo. Temos o direito constitucional de nos manifestar, e a postura da polícia é totalmente autoritária e repressiva. Acho que o dia de hoje não será facilmente esquecido pelo movimento negro”.

Cathaiara – militante do Quilombagem

“A gente tava na organização do EJUNE querendo debater as demandas da dos negros e negras da região. A juventude do ABC tirou como tema para o ato de hoje “Juventude negra vai à luta” e tinha como atividade uma passeata denunciando o genocídio da juventude negra e do desemprego. São Bernardo do Campo tem 38 % de população negra, e uma imensa parte destes estão desempregados. A falta de emprego é um dos piores tipos de violência, porque nega que a gente tenha uma vida digna. O que aconteceu foi que quando pegamos uma rua um pouco menos movimentada, porque a igreja proibiu que o ato fosse encerrado na Parca da Matriz, chegou a polícia. Eles disseram que iam prender todo mundo por “apologia contra a polícia”. Agora pouco liberaram eu e a Luciana. Os dois principais policiais que mais reprimiram acusaram a Mara do Hip-Hop como a que teria feito a principal intervenção que os “ofendeu”.
Isso que aconteceu é mais que uma arbitrariedade. Dependendo de como for, se você reclama que não tem emprego, sendo negro ou branco até pode ser que passe batido. Agora se você for negro, a coisa piora muito, porque tudo que é denunciado como racismo nesta sociedade tende a ter uma repressão muito maior”.

Eduardo Rosa – representante da entidade Rosas Negras e um dos detidos.

“Hoje dia 05 estava sendo realizado encontro regional de juventude negra do ABC, e na programação do encontro estava previsto um ato contra o genocídio da juventude negra, contra a redução da maioridade penal e por emprego para juventude negra. No meio do ato os policiais pararam o carro de som dizendo que nós tínhamos que tirar os cartazes por que eram cartazes contra violência policial. Além disso, eles mandaram que a gente usasse só uma faixa da rua. Atendemos ao pedido, mas mesmo assim eles quiseram encerrar o ato. Então a gente decidiu voltar pela calçada. Daí os policiais disseram que iam levar a gente para a delegacia. Perguntei porque a um policial, e ele não respondeu. Disse que se eu não fosse ia me arrastar pelos cabelos até a viatura. Viemos para delegacia. Este foi um primeiro ato da juventude negra do ABC contra o racismo, e demonstrou como quando o povo negro sai às ruas a polícia não hesita em reprimir. Mas o povo negro tem uma história imensa de lutas heróicas, e este tipo de violência contra nós só aumenta nossa disposição de luta. Não baixamos a cabeça”.

Mara do Hip-Hop – militante da Corrente Operária do PSOL e impulsionadora da Casa de Cultura e Política do ABC

One thought on “De novo, a polícia

  1. De novo, a polícia
    Se a justiça no Brasil funcionasse, tinha que prender esses fascistas travestidos de polícias! O problema é que, da mesma maneira que sabemos que o Renan Calheiros ficará onde está, sabemos que essa corja não será punida!

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