Diálogos com a África

Foto: Cartazes de Nairóbi, por Glauciana de Souza

No encontro Diálogos com a África, realizado em São Paulo, dia 17 de março, por algumas organizações do movimento negro e social brasileiro, a imagem impressa da escultura de uma adolescente grávida crucificada transportou um pouco do clima FSM 2007, em Nairobi, para a Ação Educativa, em São Paulo.

A escultura “Em nome de Deus”, de Jens Galchiot, circulou pelo FSM para divulgar uma campanha contra o fundamentalismo religioso no Quênia e foi algo marcante, em uma cidade de grande influência cristã e participação de grupos religiosos em várias atividades inscritas. Como este, vários cartazes recolhidos pela organização Soweto no estádio Moi, que sediou o FSM, foram transformados em objetos de exposição durante o encontro.

Até o folder vermelho com os logotipos da multinacional CelTel e do FSM, lado a lado, distribuído pela empresa durante o credenciamento – e causa de uma onda de indignação por todo o fórum -, veio parar na exposição, trazendo um pouco dos bons e maus momentos de Nairóbi para ambientar as conversas.

Os “Diálogos” foram dedicados aos laços sociais, políticos e afetivos criados no FSM entre ativistas daqui e de lá e foram promovidos pelas organizações Soweto, Instituto Paulo Freire, Aliança Negra, Fórum África, Afubesp, Ciranda Afro, Ação Educativa e outras entidades convidadas.

Um FSM na floresta?

Agendas de lutas pela educação ou pela anulação da dívida, a solidariedade com os jovens quenianos do People’s Parliament presos em Nairóbi após o FSM, as atividades de midia alternativa compartilhadas, o hip hop e o intercâmbio de experiências com outros países africanos, tudo foi parte das conversas, documentários, videoclipes, depoimentos e de centenas de fotografias.

Participantes do encontro conversaram também sobre o processo que vai definir o local da próxima edição, em 2009, e propostas para as jornadas de mobilizações globais, em 2008. O Conselho Internacional do FSM se reúne na Alemanha, em junho, com essa pauta pela frente.

A proposta surgida nos Diálogos é de realizar uma grande atividade em Salvador, em janeiro de 2008, como forma de marcar a participação brasileira nas jornadas mundiais, independentemente de outros encontros, fóruns e manifestações em outros locais do país. Para 2009, participantes defenderam que o FSM seja sediado na Amazônia, como forma de ampliar os diálogos com os povos tradicionais da floresta. E volte a um país africano na edição seguinte.

Tambores da África, sementes do Brasil

Ao deslocar-se da África para a Amazônia, depois de uma experiência globalizada, o FSM facilitaria a continuidade de intercâmbios quase improváveis, pela distância geográfica e cultural, como o que foi iniciado entre o artesão Jairo Rodrigues, da organização informal Arirambas, de Rondônia, e moradores da Favela de Kibera, no Quênia, durante a edição do FSM em Nairobi.

No FSM, o brasileiro que não fala inglês nem swahili se fez entender criando colares de sementes com íntimo conhecimento da diversidade local da flora amazônica. O grupo queniano que não entende português mostrou como faz seus tambores artesanais na medida das suas sonoridades africanas.

Internet não existe na comunidade ribeirinha onde vive Jairo, nem na maior favela do Quênia que ele visitou. A população de Nairóbi só consegue conectar-se recorrendo a cibercafés pagos. A comunicação é difícil mas Jairo e seus novos amigos saíram do fórum decididos a programar oficinas conjuntas, mesmo sem saber ainda como tornarão isso possível.

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