As mulheres não se calam

Marcado pela chegada ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, cujos ataques aos direitos das mulheres são históricos, o 8 de março fez ecoar no país o grito de protesto contra sua presença e política, que faz vítimas em todo o mundo. Muitas são mulheres. Como é de praxe, elas decidiram não se calar e acolheram em sua tradicional marcha no Dia Internacional da Mulher a bandeira “Fora Bush”. Segundo a organização, cerca de 20 mil participantes ocuparam a Avenida Paulista para lembrar que a situação feminina ainda é desigual, em pleno século XXI, e mostrar sua insatisfação com a visita indesejada.

Enquanto São Paulo se preparava para uma operação digna de Hollywood – que transtornaria a vida dos milhares de paulistanos e paulistanas que precisam se locomover diariamente para obter seu ganha-pão ou estudar -, paralisando ruas e avenidas inteiras e transformando-nas em palco para que um único personagem – Bush – e sua comitiva passassem com segurança e tranqüilidade, os manifestantes bradavam contra o império.

A passeata seguia pacífica, alheia à presença da polícia, por sua vez pronta para o ataque, ao menor “motivo”. Lamentavelmente, brecha para a truculência foi encontrada. Expôs-se sua falta de preparo e que ainda tenta justificar sua resposta violenta. Na cobertura do episódio, a grande imprensa noticiava que houve provocação por parte dos manifestantes, que a pista livre da Paulista fora tomada indevidamente etc. etc. “A reação da polícia foi exacerbada”, resume Sílvia de Oliveira, do Comitê de Solidariedade aos Povos Árabes.

Como um trator

A cena foi dantesca. A polícia quase passou por cima de mulheres deficientes que acompanhavam a passeata, conta Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres. Ela continua: “Chegaram, sem mais nem menos, soltando bombas. Havia muitas meninas e idosas, algumas saíram machucadas. É o absurdo governo Serra, que ataca mulheres no seu direito de protestar.”

Trabalhadora da USP (Universidade de São Paulo), Regina B. faz uma narrativa contundente da investida do aparato de segurança do Estado: “O ato seguia tranqüilo, organizado em blocos. Cerca de uma hora depois do início, a gente viu os policiais retirarem suas etiquetas de identificação do peito e se agruparem. Esbarraram nesses anarco-punks, porque sabiam que reagiriam à provocação. Juntaram a tropa de choque, pararam em fileiras e foram para cima, cercando as pessoas, sem se importar se eram trabalhadores/as, estudantes. Atiraram com balas de borracha e lançaram gás lacrimogêneo. Uma bomba estourou no meio das pernas de uma menina, que ficaram sangrando. Ela teve que ser levada pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).” A professora universitária Sandra Souza, do Fórum por uma Sociedade sem Manicômios, foi uma das alvejadas pelas balas de borracha. “Fui tentar socorrer pessoas, olharam para mim e atiraram”, disse ela, mostrando o ferimento no pé.

Cláudia Praxedes, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), é categórica: “É o retrato da polícia brasileira, que vem preparada para bater, independentemente de quem seja.” Não houve surpresa para essa militante: “Imaginamos que seria meio tensa a situação, por conta de o Bush estar aqui.”

Jeruza Souza, da Fitert (Federação Nacional dos Trabalhadores em Rádio e TV), também acredita que esse componente contribuiu para a pancadaria, em “um ato que reafirmava a reivindicação das mulheres por salários iguais, contra a política de opressão estadunidense, a miséria, o desemprego, as reformas do Lula”. Ela se indigna: “Estamos em uma democracia e não em uma ditadura militar.”

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