Relatório sobre o Laboratório de Conhecimentos Livres

No início de junho de 2004, em Porto Alegre, aconteceu a quinta edição
do Fórum Internacional de Software Livre. Naquele espaço de troca
experiências técnicas e políticas em torno do Software Livre surge a
proposta de investir no uso de ferramentas livres na quinta edição do
Fórum Social Mundial. Alguns grupos (Planeta Porto Alegre, Hipatia,
PSL-BR) e indivíduos mostraram-se interessados nas primeiras idéias e na
atuação em um espaço com tantos grupos diferentes, unidos na vontade
comum da construção de um outro mundo. Foi criada uma lista de discussão
(fsmlivre en listas.hipatia.info), de vida curta. Mas logo algumas pessoas
se animaram e retomar a idéia de construir um espaço de uso de
ferramentas livres, repleto dos valores que comunidade software livre
carrega nas linhas de código de cada programa. As propostas iam deste da
migração do site oficial do V FSM ao uso de ferramentas livres e
legitimição por parte do comitê organizador da idéia de compartilhamento
de conhecimentos. Esses sentimentos iam de encontro a propostas já
discutidas no GT de comunicação, principalmente aquelas de apoio à mídia
alternativa/independente.
A partir do acúmulo do FISL, da lista de discussão fsmlivre e de
experiências no polimidia, surge a proposta do “Laboratorio de
Conhecimentos livres”. Vários atores/as foram importantes da construção
desse projeto, como Rita Freire (Ciranda), Daniel Merli (Comunicação do
V FSM), Salete Valesan (Instituto Paulo Freire), Viliano Fansini e
Everton Rodrigues (do Acampamento Internacional da Juventude), Rafael
Evangelista e Antonio Martins (Planeta Porto Alegre), Felipe Fonseca
(Metareciclagem) e tantos outros/as que, direta ou indiretamente
contribuíram na construção do espaço em tantas reuniões e mensagens
eletrõnicas.

O primeiro rascunho da idéia do espaço do Laboratório de Conhecimentos
Livres deu-se em reunião inicial entre representantes o Planeta Porto
Alegre, Coletivo Palmarino e MetaReciclagem. Partiu-se da idéia de
pontecializacao e apropriação tecnológica por parte de ativistas e
grupos de comumincação, no sentido de contribuir para uma comunicação
livre e diversificada, assim como na redução do custo de uso de licenças
de programas proprietarios, na filosofia de compartilhamento de
informações e do conhecimento por meio do copyleft, na organização dos
movimentos e agilizadade da informação. Foi um ponto comum a idéia de
que os grupos participantes deveriam ter total liberdade de ação e gestão.

A partir dessas demandas, vários coletivos de comunicação, cultura e
grupos de software livre vieram a formar um time inicial. Realizariam
essas atividades atráves de oficinas dentro do espaço reservado. A
parceria entre esses grupos se deu com diversas propostas. Os grupos
levariam seus próprios equipamentos (o que reduziria muito o custo da
atividade), como parte da idéia de autogestão, e a organização do FSM se
responsabilizaria por um espaço com conexão à internet e por transporte
de pessoas e equipamentos, para que os coletivos levassem seu material
de trabalho para Porto Alegre.

No decorrer de várias reuniões, a necessidade de autonomia do LCL em
relação ao FSM e ao Acampamento foi diversas vezes colocada, para que
todos pudessem ser organizadores dos espaço e que não houvesse nenhuma
forma hierarquia, uma vez que cada um construiria uma parte do projeto
importante para o todo. Em um primeiro momento, pensou-se que o melhor
seria ficar próximo aos principais eventos do FSM, para garantir grande
exposição mas, ao longo das reuniões, a partir do novo desenho do FSM e
com a garantida de espaço autônomo oferecida pela coordenação, optou-se
pelo AIJ. Lá, seria o centro nervoso do FSM, e o AIJ acabou por propor a
adoção da idéia como um dos seus 9 espaços.

A comissão organizadora do AIJ tratou de organizar o espaco+conexao, os
10 coletivos ansiavam pelo momento, mas ainda restava a resposta
positiva (ou negativa), por parte do FSM em relacão ao ônibus, o que so
viria se confirmar poucos dias antes do FSM. Um dos ônibus que seria
pago à comissão do Fórum organizador de Espírito Santo vagou e o COB
decidiu que o melhor seria liberar o ônibus para o pessoal do LCL.

Feita a correria atrás do fretamento do ônibus – que na última hora
quase deu errado pela situação irregular de uma das empresas cotadas –
tudo certo. Dia 23, rumo à POA. Mas, antes, fechamos de nos unirmos com
a caravana do midia sana pelo país. A idéia da caravana era parar em
algumas capitais – midia sana fez atividades em Vitória, Rio de Janeiro,
São Paulo, Curitiba, Florianópolis e no FSM. Fechamos ativdades
conjuntas em Curitiba e Florianópolis, que aconteceram entre os dias 23
e 24 (mais informacões em www.mediansana.org). NO dia 25, de manhã,
estávamos em terra gaúchas.

Chegando, o espaço que viria ser o LCL, ainda não estava terminado.
Então, mãos à obra. Ajudamos a terminar o teto – que, com o vento que
estava, iria zuar tudo la dentro. O LCL era feito de palha e barro, com
estrutura de bambu (como pode ser visto no vídeo realizado Gt-memória,
pelo Forum de TVs
http://fsm.procempa.com.br/forumdetvs/prog002/Mudar%20o%20mundo.mpg ).
Ali seria nossa morada durante todo o FSM.

Enquanto alguns ficavam arrumando o teto, outros iam arrumando as
barracas na cidade das cidades. Fechamos tudo para que à noite
acontecesse uma reunião de gestão do LCL. Presentes vários coletivos:
Metareciclagem, Joinha Filmes, Raio X Comunicação, Articuladores,
Coletivo Palmarino, Centro de Mídia Independente, Rizoma Radios Livres e
Radios Comunitarias, Media Sana, GT Memoria e outros indivíduos
interessados em participar da gestão do espaço.

O Laboratório ficou dividido em quatro espaços: Laboratório para acesso
web e realização de oficinas; espaço para rádios livres e comunitárias;
espaço de experimentação de software, onde acontecia uma troca de
experiências mais contínua com os grupos de comunicação interessados em
voltar para suas localidades com mais domínio dos softwares; e um espaço
aberto para atividades espontâneas. Para propor atividades ao LCL de
Oficinas bastava colocar um cartaz no mural de atividades e pronto. Cada
oficina tinha uma duração aproximada de duas horas e, assim, se fez a
autogestão do espaço. Aos poucos forão aparecendo várias propostas de
oficinas. Oficinas de Animação (Blender e Gimp), Edição de Audio
(Ardour, rezound, freebirth), edição de video (Kino e Cinelerra),
Diagramação (Scribus), Desenho Vetorial (sodipodi), Jornalismo
Comunitario e software livre (OpenOffice Writer), Usando Plaforma Web
para organização social, Distrubuição GNU/Linux X-Evian, Reciclagem de
micros antigos, Introdução ao software livre, instalação e configuração
do sistema operacional gnu/linux e outras atividades.

No espaço das rádios aconteceram atividades praticamente o tempo todo,
várias rádios transmitiam suas idéias. Cinco computadores ficaram para
edição dos programas. Aconteceram transmissões ao vivo pela rádio livre
via web e uma troca de idéias com a rádio zopote do México. No espaço
aberto, aconteceram várias atividades, sendo algumas delas sobre
organização de ONGs, comunicacão, aprensentacão de bandas, e tantas
outras reuniões de grupos. Rolaram também apresentações diárias de
música popular brasileira com a banda Expresso 411

E à noite aconteciam as festinhas com muita dança e cerveja.

Até o Ministro Gilberto Gil passou por lá, junto com o criador do
Creative Commons Lawrence Lessig. A visita gerou uma intervenção do
pessoal das rádios livres e comunitárias, questionando o grande número
de casos de prisões e fechamentos de rádios pelo governo Lula, isso logo
após uma desmonstração do trabalho do pessoal do media sana e
articuladores. Mas tudo acabou em samba e no peso popular brasileiro,
com o pessoal do expresso 411 tocando com o Gilberto Gil.

O movimento no LCL foi muito grande, com ativistas querendo saber mais
sobre o que era tudo aquilo, pessoas utilizando o laboratório para
acessar a internet. A imprensa de vários países cobriu as atividades.

Na verdade, o laboratorio de acesso a internet foi mal utilizado. Via-se
que poucos do públicco fazem um bom uso da rede. Havia máquinas boas,
conexão boa – no primeiro dia houve vários problemas com a rede, mas
solucionados a partir do segundo dia. Havia sempre fila para acesar à
internet, mas o que se via era que as pessoas gastavam muito tempo em
chat, nos sistemas do orkut e msn, isso em um momento em que várias
coisas aconteciam ao redor. Incrivelmente, via-se inúmeras pessoas
usando hotmail, da Microsoft, empresa que contraria todos os princípios
da comunidade livre. Aquele terrível desenhos azul do site da empresa
corrompia a harmonia das telas.

Em um certo momento houve estresse entre os coletivos, que chegaram a se
estranhar em horas de discussão – mas tudo terminou em cerveja. É muito
fácil defender um momento de diversidade, mas viver a diversidade é
outra coisa. Ali era o momento de estar com o diferente, com o outro,
aquele que sempre quer falar, ser ouvido, deve aprender também a ficar
quieto e ouvir.

E tome baixar fotos de câmeras digitais, gravaço de cds, digiltalização
de áudio dos mds, carregar bateria de celular e filmadoras.

Pessoas fotografando, gravadores para todos os lados, entrevista aqui e
ali, troca de contatos, risos, nervosismo, amadorismo, muita
experiência, oficinas lotadas, conhecimento compartilhando, quem ensinou
tambem aprendeu, erros e acertos, alegria, picuinha, anarquista,
socialista, comunista, *istas e *ismos, quero mudar o mundo, estou só de
passagem, o que esta acontecendo?! tinha de tudo.

Esse foi o laboratório de conhecimento livres.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *