Morrer bem longe

Foto: Feita para o FSF, cruz homenagia mortos na fronteira

Em três anos de vigilância pelas áreas de fronteira entre Méxicos e Estados Unidos, a Organização de Direitos Humanos do Arizona encontrou 698 corpos que pessoas que morreram tentando fazer a travessia. Desses, 317 não chegaram a ser identificados. De alguns, não foi possível saber se era homem ou mulher, tanto demorou para que alguém os localizasse. Muitos morrem de hipotermia, sem ajuda.

É essa, na opinião da organização, a política que Bush quer consolidar com a segunda fase de construção do muro. Levar os migrantes para pontos tão remotos e perigosos, onde não exista socorro e a morte seja certa.

“Desviam para os lugares mais isolados, mais horriveis. Não querem nos ver morrer, nem aceitar a culpa diz uma ativista da organização em depoimento à Radio Comunitária de Atlanta e transmitido pela Radio Bemba.

Pilar Mendes, da emissora alternativa dos EUA descobriu que a tendência é aumentar a morte de mulheres e crianças, o que já vem acontecendo, segundo a organização de Direitos Humanos do Arizona.

Com o cerco imposto pelos EUA, a travessia de novos trabalhadores está mais difícil. Mas as mulheres e crianças tentam chegar ao país onde já estão os seus maridos, que cruzaram antes a fronteira. A perspectiva é de mais terror ainda, com a ampliação do muro.

A Rádio Comunitária de Atlanta – cidade onde se realizará o Fórum Social dos Estados Unidos em 2007 – é um dos meios alternativos que promove o debate da política anti-imigração dos EUA e as condiçòes de vida dos latinos. Também apresenta programas sobre países da América Latina e procura ajudar a a população a manter-se esclarecida e consciente dos perigos. Colaboram vários ativistas de organizações afrodescendentes, que enfretam um cerco cotidiano no país. “Os brancos de Atlanta são muito discriminadores”, diz Pilar.

O muro, segundo ela, é uma expressão do racismo. Não querem pessoas de pele mais escura entrando no país. “Trabalhamos para dar uma voz alternativa ãs nossas comunidades”

Todos os anos, ativistas solidários fazem a marcha pelo sendero dos imigrantes. No último, foram 75 mim caminhando durante 7 dias pelos lugares onde os imigrantes estão morrendo. Para Carla Rodriguez, do Arizona, é a política de livre comércio, adotada nas relações entre México e Estados Unidos, a grande causa da travessia e da perda de vidas humanas. “Não perguntam porque as pessoas vem. Fazem o muro. Mas é a política de livre comercio que está nos matando, diz ela.

Por maiores que sejam os riscos, com muro ou sem muro, ela acredita que a travessia vá continuar do mesmo jeito. Para nao morrer de fome em casa com as crianças, as pessoas vão do mesmo jeito.

Com Radio Bemba

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