O auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco foi ocupado na tarde de hoje por dezenas pessoas que não esquecem o massacre de Eldorado dos Carajás. Há dez anos, no dia 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais do Movimento Sem Terra (MST), foram assassinados pela policia militar do Pará e até hoje, nenhum responsável foi punido.
Ao som de um tambor, integrantes do MST relembraram as vítimas do massacre com uma marcha fúnebre. Alguns sem-terra, 19 no total, foram carregados como cadáveres e deixados, um a um, na mesa e no chão do auditório. O debate também foi aberto com uma homenagem a Oziel Pereira, que na época tinha 17 anos, foi algemado e morto com um tiro na cabeça.
“A violência continua no campo como há trinta, quarenta, cinquenta anos atrás, mas hoje o nosso inimigo é o capital”, afirmou o dirigente nacional do MST, João Paulo Rodrigues, para a platéia repleta de sem-terras, estudantes e representantes de ONGs. Para ele, além da omissão do Poder Judiciário, que ainda não puniu nenhum dos envolvidos no caso de Carajás, a luta pelo direito a terra no Brasil ainda enfrenta outros entraves: a criminalização dos movimentos sociais e o avanço do agronegócio. “Nos latifúndios antigos as milícias armadas se organizavam com fuzis, hoje elas estão se organizando com a tecnologia do agronegócio”, disse Rodrigues.
Segundo Darcy Frigo, da ONG Terra de Direitos, o que aconteceu em Carajás foi uma grave violação dos direitos humanos. “O objetivo daquela ação policial capitaneada pelo estado do Pará, era o de manter o mesmo sistema econômico. Esses trabalhadores lutavam por uma série de direitos que tinham”, disse Frigo.
“A impunidade gera violência, leva agentes públicos e pessoas comuns a também violarem os direitos humanos”, afirmou Olmar Klich, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Ele lembrou que há dez anos já existiam ferramentas de defesa como, por exemplo, a própria secretaria, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados e outros instrumentos. “Para enfrentar as violências e superar a impunidade é preciso melhorar essas ferramentas”, completou Klich.
Também participou do debate Elmano Freitas, do setor nacional de Direitos Humanos do MST.